sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Manter as mulheres silenciosas é um meio de as dominar - pedagogia dos contos de fadas

Os contos de fadas atravessam as gerações e são transversais a todos os extractos da sociedade; contados às crianças desde a mais tenra infância, servem a dupla função de divertir e ensinar, transmitindo modelos de comportamento e normativos sociais.
Sem qualquer esforço e com perfeita naturalidade, as crianças identificam-se com os caracteres que lhes são apresentados a uma luz favorável e distanciam-se e repelem os outros, aprendendo assim por impregnação cultural os papéis que se espera venham a desempenhar. Pode falar-se em autêntica lavagem ao cérebro que garante a prevalência do grupo socialmente dominante.

Como o grupo dominante tem todo o interesse em que as mulheres continuem no lugar subordinado e secundarizado que desde sempre lhes tem sido destinado, as personagens femininas que correspondem às futuras boas mulheres apresentam certos atributos que são especialmente valorizados, destes destacam-se três extremamente importantes: o silêncio, a passividade e a beleza. Vamos ver cada um destes atributos de per si.

Nos contos de fadas as boas meninas são caladas e pacatas: fazerem-se ouvir, manifestar opiniões ou expressar desejos é mostrado como algo pouco apropriado; implicitamente supõe-se que não tem nada de importante a dizer e que assim devem continuar. Esta valorização do silêncio feminino, embora desconcertante, tem uma explicação bastante óbvia. Há uma relação profunda entre palavra e poder, quem tem o dom da primeira pode vir a conseguir o segundo. Saber verbalizar, saber exprimir, é um instrumento poderoso para influenciar os outros e os levar a cursos de acção que podem ser os desejados por aquele que verbaliza. Normalmente associa-se a capacidade verbal a pessoas que ocupam lugares de autoridade, ora não interessa nada que as mulheres sequer pensem em conquistá-los, por isso, nos contos de fadas só as mulheres más, as bruxas é que detém este poder, mas para praticar aquilo que é apresentado como mau, rogar pragas às boas personagens da história. Por isso, manter as mulheres silenciosas é um meio de as dominar.

Nos contos de fadas, um atributo muito inculcado nas mulheres é a passividade; sempre que são colocadas em situações de perigo, não fazem nada, não tomam qualquer iniciativa, apenas esperam pelo «cavaleiro andante» que, arrostando todos os perigos, as virá salvar. A mensagem subliminar que passa é a de que as mulheres são fracas, indefesas e incapazes de tomarem iniciativas e decisões apropriadas pelo que devem deixar esse papel aos homens, pois só eles as podem proteger. É caso para perguntar de quem têm elas de ser protegidas? De qualquer modo, a passividade das mulheres serve para justificar a dominância dos homens.

Por último, mas não menos importante, nos contos de fadas, a beleza é extremamente reverenciada, é a porta da felicidade entendida em termos do perfeito casamento que finalizará a história. As mulheres são amadas porque são belas, não porque são inteligentes ou têm uma personalidade interessante, isso nunca importa. Avaliar um ser humano com base num atributo completamente superficial é extremamente injusto, mas os contos de fadas preocupam-se pouco com a justiça ou com a injustiça, não é para isso que servem.

Estas três características: silêncio, passividade e beleza ainda hoje são muito valorizadas, por isso não surpreende que tantas mulheres as endossem; por isso também quebrar esta corrente que nos subjuga constitui uma tarefa prioritária. Se começarmos por quebrar o silêncio, se nos atrevermos a falar o que até hoje calamos, o resto virá por arrastamento.

6 comentários:

  1. sugiro que a autora assista os filmes do SHREK;as coisas estão mudando....

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  2. Anonim@
    Claro que as coisas estão mudando, mas se procurarmos histórias infantis para filh@s, ou net@s vemos que as clássicas continuam a ser aquelas que facilmente se encontram.
    De qualquer modo já fui pesquisar a sua sugestão que me pareceu interessante e encontrei também algumas histórias de fadas inapropriadas, muito gostosas, mas mais para a perspectiva adulta.

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  3. No caso do Shrek não há grandes avanços, desculpe, a não ser pelo fato de ao invés de sonhar com um principe lindo alto e loiro de olhos azuis, as princezas tem de se contentar com ogres feios e fedorentos... blaaaaaaaaaargh...
    Ainda bem q eu não reciso de um homem pra chamar de meu... nem macho alfa nem macho "ufa"...

    Tbm está na hora das mulheres pararem de usar tudo isso como desculpa e acordar, é a vida delas q está sendo jogada fora... elas são as princiais interessadas... hj há muita informação em todo lado, e tbm já há bastante liberdade...

    Hora de despertar a mulher selvagem, la loba, de q fala Clarissa... digo isto, pois, como cinderela arrependida q sou... e no fundo sei q é complicado... cada uma tem o seu tempo...

    enfim...

    bjins...

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  4. Nana,sinceramente,mas é uma grande ignorância de sua parte argumentar iso,igorânncia inclsuive que já vi me várias feministas,e para piorar,vc vem com estes argumentos de "mulher selvagem" etc que nada mais é do uma fachada pseudo-libertária para o "eterno feminino" criado para o machismo.Não em admiro nada que alguém com tal mentalidade tenha tanta inseugrança na hora de se expressar e a alegação do senso comum de que "já tem muita informação e liberdade para as mulgheres".Tem mesmo?Só falta vc me dizer que pronografia é uma delas,a julgar seu tipo de pensamento.
    Mencionei o SHREK porque a princesa Fiona vira ogro no final e não faz o estilo "indefeza romântica",e no terceiro filme,ela incit as princesas a saírem da prisão ao invés de esperarem por cavaleiros a salvarem.Já é um grende avanço se comparado aos contos tradicionais.

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  5. cara...quanta viagem....estes contos de fadas na sua origem não tinha nada aver com estas coisas aí de principe encantado etc.São repletos de pedofilia,incesto e por aí vai.Estas estórias ficaram "bonitinhas" só recentemente.Para vcs terem uma idéia,Rapunzel teve 2 filhos com o principe que a "visitava" lá na torre,sem ter casamento no meio.E a Branca de Neve era uma meninina de 7 anos que o principe mantinha num caixão de vidro para ter relações com ele de vez en quando e outras bizarrices afins.Basta procurarem aí na net que verão que esta estória de "felizes para sempre" está mais para invenção da burguesia industrial do que para contos de fadas propriamente ditos.

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  6. car@ anónim@
    Não sei quem anda viajando!!
    Será que voce pretende que os contos de fadas tais como os conhecemos não modelam o comportamento das crianças?

    Que os contos de fadas tenham sofrido as alterações a que alude é algo que admito perfeitamente, de resto, se bem pensarmos só a partir da época moderna foi necessário investir em força no tipo de condicionamento que eles poderiam propiciar pois só a partir dessa época o sitema patriarcal conheceu o primeiro embate verdadeiramente significativo da sua longa história. Antes não era requerida tanta sofisticação para manter as mulheres no seu «devido lugar».

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