sábado, 24 de abril de 2010

A intimidação psicológica como mecanismo para manter as mulheres na linha

Continuamos a viver num sistemas de castas que têm por base o sexo, em que uma delas, a das mulheres, é mantida segregada, para que continue a deter um baixo estatuto. Essa segregação, que toma por base a diferença de papéis sexuais, funciona melhor do que a segregação espacial, com base em guetos, porque pode ser mais facilmente camuflada e as mulheres podem mais facilmente ser convencidas de que são «diferentes, mas iguais»; é este o slogan repetido retoricamente por anti-feministas de todas as tendências que se esquecem de dizer que, pelo menos tradicionalmente, essa diferença tem sido construída em termos de hierarquia. Por isso, sempre que ouvirmos este slogan, convém ficarmos espertas.

Mary Daly, no livro Beyond God the Father, denunciou o sistema de castas com base no sexo e mostrou como a Igreja Católica e as igrejas cristãs o têm justificado e promovido; mas também nos alertou para a necessidade de estarmos atentas a disciplinas mais modernas que, de forma bem mais eficiente nos dias que correm, continuam, em novos moldes, o trabalho que antes coube à religião instituída e seus acólitos. No excerto que a seguir apresento ela refere explicitamente a psiquiatria e a psicologia que muitas de nós reverenciamos porque, um pouco ingenuamente, acreditamos na «objectividade» dos novos especialistas, mas que devíamos antes encarar com saudável suspeição e criticismo:

«Em larga medida em tempos recentes o papel da religião enquanto suporte do sistema de castas sexuais tem sido transferido para as profissões da psiquiatria e da psicologia. Feministas apontaram que não foi por acaso que a teoria freudiana emergiu quando a primeira vaga de feminismo estava no ninho. Isso foi parte da contra revolução, do contra-ataque masculino. A psiquiatria e a psicologia têm os seus próprios credos, sacerdócio, aconselhamento espiritual, regras, anátemas e gíria. O seu poder de intimidação psicológica é enorme. Milhões de mulheres, que sorririam perante o rótulo de «herética» ou «pecadora», por recusarem conformar-se às normas da sociedade sexista, podem ser atemorizadas e mantidas na linha pelos rótulos de «doente», «neurótica» ou «não-feminina». Conjuntamente estas profissões funcionam como a «mãe» Igreja da religião secular patriarcal contemporânea e enviam missionários para todo o lado.»
Mary Daly: Beyond God the Father, Beacon Press, Boston, 1985, p. 4

2 comentários:

  1. Olá pessoas, quanto tempo. Mas hoje consegui ler numa tarde os post antigos. Tenho estado na correria e no meu lugar sexualizado de trabalhadora e dona de casa. Mas um dia deixo a pia e fujo para a Cátedra!
    Adorei o novo formato dos posts. Textos mais curtos. Sei que não é uma constante, pois precisamos dos textos longos e de muita informação...beijoss
    ana laura

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  2. Olá meninas,
    sejam bem aparecidas.
    Quanto ao tamanho dos posts as vezes é requerida alguma contenção.
    Só lamento não ter capacidade retórica para os escrever mais curtos, sem perda de informação essencial. Acho que devíamos todas investir mais em estratégias retóricas, as nossas adversárias, as anti-feministas, nisso são exímias, também pudera limitam-se a reiterar preconceitos estabelecidos e aceites sem discussão ou crítica pelo senso comum mais comum.
    Ãpareçam sempre,
    abraço adília

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