O amor romântico se não é uma invenção é pelo menos uma situação afectivo-sexual que ganha contornos bem definidos no século XVIII. Curiosamente, a construção desses contornos coincide com a emergência do movimento feminista e por tal motivo requer alguma atenção porque pode funcionar, e efectivamente tem funcionado, como um entrave à autonomia das mulheres, enquanto deixa inalteradas as possibilidades de autonomia dos homens.
O amor romântico toma como pressuposto que é possível duas pessoas, e estou a falar de relações heterossexuais, fundirem-se numa só, ou pelo menos darem origem a uma nova entidade: um casal, que adquire uma identidade própria. Só que essa identidade, essa fusão de dois num significa normalmente que esse um é masculino, o que não poderia deixar de acontecer no contexto das sociedades sexistas em que homens e mulheres têm vivido.
Com a proposta do amor romântico, muito sedutora para as mulheres pois que além de lhes prometer amor também lhes promete respeito e igualdade de tratamento, só o amor e o respeito são conseguidos, quando são, o que já não parece mau de todo ; mas a igualdade de tratamento vai ser completamente comprometida pelas cedências que as mulheres têm de fazer. Num casal que vive romanticamente o amor é suposto que a mulher abdique, e abdique de bom grado, se for necessário, da sua carreira e ou das suas aspirações pessoais para apoiar a carreira e permitir a realização das aspirações do companheiro; é preciso que se apague enquanto existência autónoma que abdique da sua identidade pessoal enquanto o companheiro a mantém; mas, como escreveu Marilyn Friedman, «Se alguém tem de desistir das suas anteriores ambições a fim de incorporar romance na sua vida, enquanto o seu amante apenas precisa de fazer pequenos ajustamentos, então a relação fará da primeira pessoa uma pessoa substantivamente diferente da que era antes, ao mesmo tempo que a outra continua a ser substantivamente a mesma pessoa.» [1]
Desse modo instalam-se e reforçam-se tantas assimetrias que só com má fé se pode falar em igualdade de tratamento, mas estas são obscurecidas pelo encantamento do amor que é bom pelo menos enquanto dura. Depois, bem, depois, às vezes, já é tarde e é impossível voltar atrás.
[1]Marilyn Friedman: Autonomy, Gender and Politics, Oxford University Press, New York, 2003, p. 126
O amor romântico toma como pressuposto que é possível duas pessoas, e estou a falar de relações heterossexuais, fundirem-se numa só, ou pelo menos darem origem a uma nova entidade: um casal, que adquire uma identidade própria. Só que essa identidade, essa fusão de dois num significa normalmente que esse um é masculino, o que não poderia deixar de acontecer no contexto das sociedades sexistas em que homens e mulheres têm vivido.
Com a proposta do amor romântico, muito sedutora para as mulheres pois que além de lhes prometer amor também lhes promete respeito e igualdade de tratamento, só o amor e o respeito são conseguidos, quando são, o que já não parece mau de todo ; mas a igualdade de tratamento vai ser completamente comprometida pelas cedências que as mulheres têm de fazer. Num casal que vive romanticamente o amor é suposto que a mulher abdique, e abdique de bom grado, se for necessário, da sua carreira e ou das suas aspirações pessoais para apoiar a carreira e permitir a realização das aspirações do companheiro; é preciso que se apague enquanto existência autónoma que abdique da sua identidade pessoal enquanto o companheiro a mantém; mas, como escreveu Marilyn Friedman, «Se alguém tem de desistir das suas anteriores ambições a fim de incorporar romance na sua vida, enquanto o seu amante apenas precisa de fazer pequenos ajustamentos, então a relação fará da primeira pessoa uma pessoa substantivamente diferente da que era antes, ao mesmo tempo que a outra continua a ser substantivamente a mesma pessoa.» [1]
Desse modo instalam-se e reforçam-se tantas assimetrias que só com má fé se pode falar em igualdade de tratamento, mas estas são obscurecidas pelo encantamento do amor que é bom pelo menos enquanto dura. Depois, bem, depois, às vezes, já é tarde e é impossível voltar atrás.
[1]Marilyn Friedman: Autonomy, Gender and Politics, Oxford University Press, New York, 2003, p. 126
Eeeeeeeeeesse texto, eh mto bom. Estou procurando o livro p comprar
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