Se as mulheres forem masoquistas, isto é, se o masoquismo, enquanto gosto pelo sofrimento e capacidade para extrair prazer do sofrimento, fizer parte da natureza feminina, toda a gente fica satisfeita: os homens porque podem controlar e dominar as mulheres sem qualquer receio de serem contestados, as mulheres porque gostarão de ser controladas e dominadas e não sentirão necessidade de se rebelarem contra tal situação. Ora, através dos tempos, tudo se tem feito para convencer as mulheres de que nelas os traços masoquistas são acentuados e sobretudo são inatos e de que a sua natural inferioridade tanto física quanto intelectual exige que se submetam, de bom grado, à orientação do sexo forte. De facto sempre que a mulher procura ser assertiva e investir nela própria em primeiro lugar é logo acusada eufemísticamente de pouco feminina e não eufemísticamente de «machona», neologismo criado no século vinte em época incerta para designar esta nova situação, que ganhou então alguma relevância, em qualquer dos casos - pouco feminina ou «machona», uma mulher que não sabe ou não quer ocupar «o seu lugar» e que se atreve a invadir o universo masculino.
Não é por acaso que uma interpretação frequente do comportamento de vítimas de violência doméstica que não abandonam o companheiro abusador pretende que elas são masoquistas - como o povo diz gostam de apanhar, omitindo convenientemente outras explicações mais plausíveis.
Uma das explicações da «aceitação» da violência doméstica tem a ver com a ambivalência de sentimentos experimentada pela mulher, quase sempre estimulada pelo abusador que, manipulando o poder que detém, também é capaz de revelar facetas e momentos de pura sedução. Outra supõe o receio das consequências que possam ocorrer de uma atitude de rejeição: os casos de polícia registam com muita frequência crimes violentos e até assassinatos praticados pelos ex-companheiros de mulheres que tiverem a coragem de dizer não à violência quotidiana e que acabaram por pagar com a própria vida essa coragem. Mas há outras vulnerabilidades, relacionadas, por exemplo, com a existência de filhos pequenos, carência de recursos económicos e até hostilidade social que explicam porque é que a mulher «aceita os maus tratos».
Em todos os casos acima referidos e estou em crer que correspondem à generalidade, não é necessário invocar o masoquismo inato ao sexo feminino que, bem vistas as coisas, é mais uma grave ofensa que se faz contra as mulheres.
Olá!
ResponderEliminarRecentemente o Instituto Sangari publicou estudo sobre a violência nos últimos 10 anos no Brasil. Dados alarmantes, que demonstram que a violência que nos assusta no local onde moramos é um fenômeno nacional. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? ALGUMAS REFLEXÕES? QUAL O PAPEL DE TODOS? Leia! Divulgue e deixe seu comentário:
www.valdecyalves.blogspot.com
Veja um vídeo do qual participei comentando sobre a violência na mídia:
http://www.youtube.com/watch?v=ljsdz4zDqmE
FELIZ PÁSCOA PARA TODOS! Não deixe de seguir o meu blog e assinar o feed.
Obrigada, já assisti ao vídeo sobre a violencia nos media; também já visitei o seu blog, interessante.
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