A ideologia, enquanto representação imaginária de uma existência real, exerce frequentemente uma função mistificadora e serve interesses que se encontram camuflados. Este aspecto é facilmente demonstrável através do escrutínio da ideologia de «sacralização da maternidade». As mulheres normalmente são mães, mas apresentar a maternidade como uma função sagrada, conquanto pareça ser uma representação que favorece as mulheres, a uma análise mais atenta revela os interesses que serve. Esta ideologia foi posta a circular através dos filósofos, dos cientistas, dos romancistas e dos meios de comunicação do século XVIII, (revolução americana revolução francesa e revolução industrial) numa altura em que a mulher começou a reivindicar acesso à esfera pública, aí então convencê-la de que o seu verdadeiro papel, o mais sagrado, era o de mãe tornou-se muito conveniente para a circunscrever à esfera privada ou pelo menos para limitar o mais possível a sua incursão na esfera pública. Desde então esta ideologia, no essencial, tem-se mantido e reforçado, para limitar o poder das mulheres. Ainda hoje é a ideologia dominante, por isso se torna necessário desconstruí-la, mas está de tal modo entranhada nas mentalidades e é tão pervasiva que se torna muito difícil ter sucesso na tarefa. O mais que se pode fazer é mostrar que ser mãe e ser pai, conquanto prazeroso e gratificante, não é tudo na vida de uma pessoa e que, sobretudo, a maternidade não deve ser usada para punir as mulheres e limitar o seu leque de opções de vida.
domingo, 21 de novembro de 2010
Ideologia e mistificação
A ideologia, enquanto representação imaginária de uma existência real, exerce frequentemente uma função mistificadora e serve interesses que se encontram camuflados. Este aspecto é facilmente demonstrável através do escrutínio da ideologia de «sacralização da maternidade». As mulheres normalmente são mães, mas apresentar a maternidade como uma função sagrada, conquanto pareça ser uma representação que favorece as mulheres, a uma análise mais atenta revela os interesses que serve. Esta ideologia foi posta a circular através dos filósofos, dos cientistas, dos romancistas e dos meios de comunicação do século XVIII, (revolução americana revolução francesa e revolução industrial) numa altura em que a mulher começou a reivindicar acesso à esfera pública, aí então convencê-la de que o seu verdadeiro papel, o mais sagrado, era o de mãe tornou-se muito conveniente para a circunscrever à esfera privada ou pelo menos para limitar o mais possível a sua incursão na esfera pública. Desde então esta ideologia, no essencial, tem-se mantido e reforçado, para limitar o poder das mulheres. Ainda hoje é a ideologia dominante, por isso se torna necessário desconstruí-la, mas está de tal modo entranhada nas mentalidades e é tão pervasiva que se torna muito difícil ter sucesso na tarefa. O mais que se pode fazer é mostrar que ser mãe e ser pai, conquanto prazeroso e gratificante, não é tudo na vida de uma pessoa e que, sobretudo, a maternidade não deve ser usada para punir as mulheres e limitar o seu leque de opções de vida.
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Há controvérsias...
ResponderEliminara maternidade não deve ser uma obrigação imposta,
mas eu me sinto realizada como mulher por ser mãe.
Talvez mais ainda pq ser mãe tbm foi transgredir o patriarcado, ao ser mãe solteira...
É preciso dismitificar essa questão do instinto materno, pq não podemos universalizar a maternidade, como não podemos uniformizar as mulheres em isso ou aquilo...
Uma mulher pode optar pela vida familiar, pela maternidade e atividade doméstica, sem q com isso seja inferiorizada em reação à outra mulher, q opta pela não-maternidade ou por uma profissão externa.
o dinheiro - capital, assim como o sucesso profissional são tbm 'falos' q a mulher ostenta e o patriarcado aceita e valida... a mulher pode optar por isso apenas p não se associar com o feminino, q seria a maternidade, e isso seria uma negação do feminino, e de certa forma, continuar submissa ao patriarcado, inclusive competindo, imitando o homem...
é uma faca de dois gumes...
conheço mulheres patriarcais, bem sucedidas q abominam a maternidade, não querem ter filhos, pq querem ser homens, querem ser como eles...
o sistema patriarcal, e econômico, nos obriga a entrar num mercado de trabalho perverso, altamente competitivo, muito yang... e a mulher às vezes tem de se tornar 'homem' p ser bem sucedida... mas quer submissa ao capital/profissão ou ao macho provedor, ambas estão trabalhando pelo patriarcado, na manutenção do sistema...
a oposição ao patriarcado está na desconstrução do sistema, com uma economia solidária, na partilha, e não na supressão ou desvalorização da maternidade.
As mulheres frequentemente negam a maternidade, querendo renegar o feminino submisso na figura da mãe (delas), com as quais querem romper, aliando-se ao pai, à figura masculina ou ao capital, enquanto poder, mas dentro do patriarcado...
eu sou mulher e sou mãe. ser mãe não me faz menos mulher, assim como ser profissional não me faz mais mulher...
agora eu desejo um mundo matrista, matrista aqui simbolizando o cálice, a fertilidade, a partilha a comunhão, a sustentabilidade, a vida...
não me interessa o feminismo q quer o poder dentro do patriarcado, mantendo o patriarcado, nem me interessa ser profissional bem sucedida dentro do patriarcado, competindo como homem...
me interessa criar um novo modelo social, não manter o patriarcado...
Nana
ResponderEliminarPeço-lhe só que medite sobre isto: a sacralização da maternidade é uma componente muito forte da ideologia anti-feminista e qualquer feminista que o ignore corre sérios riscos de estar a fazer o jogo do anti-feminismo mesmo que essa não seja a sua intenção.
ainda hoje as antifeministas apostam e as vezes poem mesmo todas as fichas na revitalização desta ideologia porque precisamente é ela juntamente com o sentimentalismo romântico que coopta as mulheres para a causa.
Qualquer mulher que considere que faz parte da sua essencia ser mãe, que sem isso não é verdadeiramente mulher, pode estar a recusar transcender uma condição bilogica pode estar a encerrar-se na imanência com os riscos que isso acrreta para a realização de um ser humano.
Ser mãe ou ser pai é uma opção mas nmão pode ser uma limitação.
abraço, adília
"o sistema patriarcal, e econômico, nos obriga a entrar num mercado de trabalho perverso, altamente competitivo, muito yang... e a mulher às vezes tem de se tornar 'homem' p ser bem sucedida... mas quer submissa ao capital/profissão ou ao macho provedor, ambas estão trabalhando pelo patriarcado, na manutenção do sistema..."
ResponderEliminar_____
Nana Odara, sua explicação é carregada de muito misticismo. No contexto de sua explanação observei a defesa da antiga divisão do trabalho segundo o gênero.
"conheço mulheres patriarcais, bem sucedidas q abominam a maternidade, não querem ter filhos, pq querem ser homens, querem ser como eles..."
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"Abominar" a maternidade, não ter filhos é ser homem? Caramba!!Reveja os seus pré-conceitos! Machismo detectado.
Lívia Pontes - RJ - BR