terça-feira, 16 de novembro de 2010

O conceito de sexo como posse

O sexólogo austríaco Otto Weininger (1880-1903), no livro Sex and Character, publicado em 1903, dá-nos conta do entendimento que têm da relação sexual; esta, em sua opinião e na opinião dos sexólogos da época e mesmo posteriores, pressupõe a passividade e dependência da mulher que, muito convenientemente transposta para as relações sociais entre homens e mulheres, permitirá manter as tradicionais e defendidas relações de domínio/submissão.

«A mulher não deseja ser tratada como um agente activo, ela quer permanecer sempre e em toda a parte – e é nisso que precisamente consiste a feminilidade – puramente passiva, e sentir-se ela própria na dependência da vontade de outrem; ela apenas e tão-somente quer ser desejada fisicamente e ser possuída como uma nova propriedade.»

Este conceito de sexo como posse da mulher pelo homem - obviamente sem reciprocidade – foi o prevalecente ainda no decurso do século XX; mas hoje é algo que repugna a muitas mulheres e mesmo a alguns homens; de resto, desde sempre, estou em crer que o homem apenas imaginou possuir a mulher através do acto sexual e que ela aquiesceu a entrar no «jogo», por necessidade de sobrevivência, nuns casos, e por pura conveniência pragmática, em outros.
Weininger dá todvia um passo interessante, essencializa uma situação puramente contingente e procura fornecer-lha uma base ontológica permanente: faria parte da essência da mulher amar a passividade e a submissão. Mas, como bem sabemos, só as coisas são possuíveis e mesmo estas de modo efémero; a posse de uma pessoa é uma impossibilidade porque uma vez possuída deixa de ser pessoa e é transformada num objecto, desprovido de vontade e de autonomia. O filósofo francês Jean Paul Sartre percebeu bem a questão, quando escreveu:

“O homem que quer ser amado não deseja realmente a escravização da amada … A total escravização da amada mata o amor do amante. Se a amada se transforma num autómato, o amante reencontra-se a si mesmo sozinho. Por isso, o amante não deseja possuir a amada como se possui um carro. Ele exige um tipo especial de apropriação. Ele quer possuir uma liberdade, enquanto liberdade, ele quer ser amado por uma liberdade, mas exige que esta liberdade deixe de ser livre.” (1)

Desta caracterização decorre que, segundo Sartre, o desejo sexual tem um objecto impossível porque o que ele quer possuir, aquilo que o satisfaz, assim que for possuído, deixa de existir enquanto tal: uma vontade livre, uma vez possuída, deixa de ser vontade e deixa de ser livre e aquele que ama não pode querer que tal aconteça. Mas claro que os sexólogos de serviço no século dezanove e mesmo no século XX não se aperceberam desta contradição e desse modo deram um contributo inestimável à perpetuação de uma situação que menorizava e inferiorizava as mulheres.

3 comentários:

  1. gostaria de convidar a todos para fazermos uma festa em homenagem à Rose no dia 11, dia em que completa 80 anos... não só uma blogagem coletiva, mas uma festa mesmo para essa mulher impossível... seu trabalho ímpar na emancipação da mulher brasileira e também referência para o mundo. Na Editora Vozes iniciou uma verdadeira batalha pela libertação da mulher, ao lado dela, Leonardo Boff lançou também a Teologia da Libertação... Nana Odara

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    1. tirar sem pedir é feio e por na net ainda pior é por na Net a onde coloquei a foto no ARTE um grupo de Fotos deve me por ffora do grupo pois esta o nome em linha recta e não o meu nome Helena Matta

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    2. Mulher e Homem se completam no amor, na vida. Sartre não entendeu Otto e este, por sua vez, estava limitado a uma visão ainda deficiente, que não conseguiu externar o conceito de interdependência e pró-existência.

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