quinta-feira, 9 de julho de 2009

Annie Besant – transgressora e marginal

Continuando a abordar o século XIX na Inglaterra vitoriana, vou hoje escrever sobre Annie Besant, personagem cuja história de vida daria um filme interessante e comovente, se a indústria do cinema, navegando em outras águas, não desdenhasse completamente este tipo de temas, para, ao invés, nos bombardear com a banalidade da violência e a trivialidade de aventuras mais toscas.

Annie Besant (1847-1933), filha de pai médico, livre pensador e céptico, e de mãe católica devota, revelou uma inteligência precoce. A sua evolução espiritual conheceu um primeiro momento de adesão ao catolicismo, em breve substituído pelo protestantismo em que foi iniciada por uma amiga. Mais tarde a leitura de Comte, com a sua lei dos três estádios de evolução da humanidade (teológico, metafísico e positivo), e de Charles Darwin inclinou-a para o ateísmo; todavia, necessidades espirituais mais fortes e a estada na Índia levaram-na a aderir à Teosofia que lhe permitia conciliar uma concepção progressista do fenómeno religioso com a defesa de causas humanitárias.

Annie casou em 1867 com Frank Besant, pastor protestante, com o qual teve dois filhos, mas a sua evolução no campo religioso conduziu a incompatibilidades que levaram à separação em 1873. Mais tarde veio a contrair um segundo casamento com Charles Bradlaugh, Membro do Parlamento, que a introduziu no jornalismo e no activismo político.

Esteve presa pelo que hoje se chama delito de opinião, tendo ficado famoso o seu julgamento juntamente com Bradlaugh por terem prefaciado um livro no qual se defendia o controlo de nascimentos e, obviamente, a divulgação de informação sobre práticas contraceptivas o que, para muitos, constituia um autêntico atentado à estabilidade da sociedade vitoriana e aos valores da família patriarcal na qual o homem controlava a sexualidade feminina.
Mais tarde, na India, foi novamente presa, acusada de sedição por defender o nacionalismo indiano contra o imperialismo britânico. Mas acabou por ser a primeira mulher eleita Presidente do Congresso Nacional da India.

A adesão à Sociedade Teosófica, à qual presidiu em 1907, bem como a fundação, juntamente com Maria Russak e James Ingel Wedgwood, da Ordem Mística do Templo da Rosa Cruz, que teve curta duração, talvez expliquem a sua marginalização por parte de certos sectores intelectuais poderosos na determinação de cânones literários e filosóficos, mas está na hora de proceder a uma reavaliação do contributo de uma mulher que lutou pela causa feminista, pelo secularismo, que liderou lutas de trabalhadoras, que antecipou a descolonização e que advogou a união de todas as religiões e o seu empenhamento em lutas humanitárias - uma mulher que esteve nitidamente à frente do seu tempo.

A obra que deixou é vasta, dela destacamos: «The Political Status of Women» (1874) e «Marriage as it was, As i tis, and As it should be: A Plea for Reform» (1878).

1 comentário:

  1. Obrigada pela visita Adília.
    Volto com mais calma, gostei muito dos assuntos abordados. Parabéns pelo blog.
    Abraço

    ResponderEliminar