sábado, 4 de julho de 2009

As anti-feministas opunham-se ao direito de voto para as mulheres! Porquê?

O anti-feminismo e, sobretudo, as anti-feministas sempre exerceram sobre mim o fascínio do inexplicável que, apesar de o ser, existe, e do incompreensível, que afronta precisamente porque o é!

Perceber porque é que mulheres, muitas delas cultas, inteligentes e equilibradas, podem assumir posições contra a libertação das mulheres; identificar os motivos que as impelem a uma tal falta de solidariedade, que nenhum outro movimento social de luta contra a opressão alguma vez encontrou, tornou-se assim um tema obrigatório de reflexão.

As anti-feministas não só ignoram ostensivamente as inúmeras e escandalosas situações em que as mulheres são oprimidas como ainda se manifestam contra as mudanças que poderiam minorar ou pôr termo a essa opressão. Ora analisar os movimentos anti-feministas e procurar pelas razões de alguns dos seus sucessos, mesmo que relativos e temporários, é, em minha opinião, extremamente importante, se quisermos que o movimento feminista evite erros, que se podem pagar caro, e delineie estratégias que permitam alcançar os objectivos que se propõe.

Vou começar hoje por abordar a difícil luta pelo sufrágio feminino - centrando-me nos Estados Unidos onde ela foi bem renhida, apresentando alguns elementos factuais e convidando os leitores a fazerem um exercício de imaginação.

Nos Estados Unidos, o movimento feminista pelo direito de voto para as mulheres teve o seu início no século XIX, mas só no século XX, mais precisamente em 1920, o objectivo foi alcançado.
Desde o início, este movimento contou com a oposição não só de boa parte dos homens, o que seria de esperar, mas também de mulheres, e essa oposição ganhou expressão a partir de 1912 com a criação do contra-movimento «The National Association Opposed to Woman Suffrage». Neste contra-movimento anti-feminista, entre 1912 e 1916, inscreveram-se cerca de 350.000 mulheres adultas e nele estavam incluidas 25 organizações estaduais empenhadas em não permitir que fosse reconhecido o direito de voto às mulheres. Deve dizer-se que a princípio foi bem sucedido pois que dos 21 Estados que apreciaram a proposta de sufrágio feminino só em seis ela foi aprovada. Claro que como sabemos, este sucesso foi temporário, pois em 1920 o Congresso dos Estados Unidos ratificou finalmente uma emenda constitucional que legalizava o voto para as mulheres.

Porquê esta oposição? Como explicar o fenómeno de mulheres em luta contra os direitos das mulheres? Seria possível imaginar sequer que alguns escravos se organizassem para lutarem contra a abolição da escravatura? Seria possível imaginar negros a favor da discriminação racial? Porquê mulheres lutam contra os direitos das mulheres?

Aceite o desafio. Responda.

4 comentários:

  1. Adília!!
    Essa é uma reflexão, que eu faço há algum tempo e me incomoda muito, porém não cheguei a uma conclusão, mas quem sabe podemos chegar a uma conclusão juntas...
    É evidente, que existem alguns fatores que levam a essa postura contra a libertação das mulheres, Simone de Beauvoir já observou isso. A situação das mulheres é sem dúvida, a mais complicada, porque as mulheres burguesas são solidárias dos burgueses e não das mulheres proletárias; as brancas, dos homens brancos e não das mulheres negras, as mulheres vivem dispersas entre homens, ligadas a eles por moradia, condição social, interesse econômico, trabalho ou qualquer outra coisa. Seria possível pra o negro e para o judeu propor uma sociedade sem brancos inteiramente judaica ou inteiramente negra, ou para o proletário propor o trucidamento das classes, mas o laço que une as mulheres a seus opressores não se compara a nenhum outro. O casal é uma unidade fundamental cujas metades se acham na sociedade dos sexos e a mulher é o Outro dentro de uma totalidade cujos dois termos são necessários um ao outro. Aí entra a questão que você coloca: Porquê mulheres lutam contra os direitos das mulheres? Acredito que as ideologias incutidas nas mulheres e nos homens ao longo do tempo, cumpre seu papel muito bem. A Moral Cristã no ocidente, cumpre seu papel perfeitamente... aí eu me pergunto: como é que as mulheres tão inteligentes, equilibradas e cultas não conseguem perceber sua própria opressão dentro dessa ideologia? A ideologia cristã incute nas mulheres o estereótipo de santa, por mais que ela não seja, ela precisa estar ali no meio termo pra ser aceita e viver “harmoniosamente” com o outro (homem) no qual é fundamental, além de tirar o seu pulso de vida, matando-as não em seu físico, mas enquanto ser pensante, ser humano. Aí está o impasse!
    Algumas mulheres não estão dispostas a abrir mão dos seus míseros privilégios. E abrir mão dos privilégios não é de maneira alguma, propor a exterminação do sexo oposto! È questionar o seu papel na sociedade, questionar o ser mulher, questionar e romper os absurdos implantados nos seres humanos. Por isso Adília, o rompimento das estruturas de opressão, é fundamental. Já sabemos que o fim do capitalismo não irá trazer o fim do machismo e do racismo, portanto, podemos começar a agir em prol de uma mudança substancial no “ser homem” e no “ser mulher”. Não podemos aceitar aquilo que nos confina em nosso sexo! Embora algumas vertentes do feminismo venha lutando por isso, ainda temos ideologias, como a cristã (mesmo sabendo que não é a única),cumprindo muito melhor seu papel do que o feminismo. As mulheres estão desunidas até mesmo dentro do movimento feminista. Esse é o nosso maior problema!
    Até porque, as mulheres unidas é sem duvida desestabilização da ordem estabeleceida!

    Abraços
    Élida (Maçãs Podres)

    ResponderEliminar
  2. Élida
    Apreciei muito o seu comentário que vêm ao encontro do que penso e gostaria de, feitas algumas poucas adaptações, adaptações, não qualquer alteração de conteúdo, o publicar como post no meu blog, referindo obviamente a autoria.
    Acha que posso?

    ResponderEliminar
  3. Sim... Fique a vontade!!
    Se estamos indignadas com as injustiças, como já disse Che Guevara,somos companheiras!!!

    Abraços

    ResponderEliminar
  4. Obrigada por este post. A propósito de um tema vizinho, levei a vossa imagem, referenciando a fonte, com link na legenda´que acompanha a minha reflexão perturbada sobre a forma como o direito ao voto, nalguns países, é menosprezado. A falta de conhecimento é o nosso maior inimigo. Obrigada.
    Deixo o link onde vos citei: http://gonzagamanuela.blogspot.pt/2013/10/e-o-voto-pa-percebes.html

    ResponderEliminar