domingo, 5 de julho de 2009

Mulheres contra o voto para as mulheres

Relativamente ao desafio que lancei no último post, vou eu própria avançar uma resposta sobre a principal motivação que pode explicar porque é que as mulheres se organizaram activamente com o objectivo de lutar contra a sua própria emancipação, empenhando-se para que não fosse reconhecido o sufrágio feminino.
Para compreender este fenómeno, temos de nos situar nas primeiras décadas do século XX, nos Estados Unidos, onde muitas mulheres começaram a frequentar universidades e a investir em carreiras profissionais que anteriormente lhes estavam vedadas. Eram estas mulheres que constituíam aquilo a que hoje se chama «massa crítica» - mulheres cultas, criativas e críticas que reivindicavam com nova força uma exigência já antiga: o direito de voto e o acesso à cidadania.
A maioria da população feminina adulta, todavia, continuava presa às velhas estruturas, confinada aos papéis de dona de casa, esposa e mãe, e naturalmente, incapaz, muitas vezes por falta de habilitações, de aceder ao mercado de trabalho. Estas mulheres viam as suas «irmãs» mais modernas e progressista com certo ressentimento e encaravam-nas como uma ameaça ao prestígio da mulher doméstica e aos respectivos papéis e padrões de comportamento; era o seu estatuto social que estava posto em causa e desse modo constituíam um grupo frágil que facilmente poderia ser, como foi, arregimentado numa luta contra os seus próprios interesses. Claro que as lideres e organizadoras dessa luta, como muitas vezes acontece, eram mulheres das classes privilegiadas que, embora convivendo com estruturas opressivas, nunca tinham sentido a opressão na própria pele e que pressentiam que as mudanças em curso poderiam pôr em causa os valores e os interesses das classes possidentes a que pertenciam.

Embora reconheça que podem ter estado em causa outras variáveis que se prendem sobretudo com a dificuldade em se construir aqui uma consciência de classe, penso que esta explicação é plausível e que identifica um factor fundamental que interferiu numa situação concreta de luta e que deveria provavelmente ter sido levado em conta pelo movimento feminista que nela se empenhou.
* Claro que, como a imagem acima documenta, mais uma vez os media colocaram o humor ao serviço da causa anti-feminista.

1 comentário:

  1. Adília!
    Analisando um período histórico, sem dúvida, essa é sim uma explicação plausível! Mas isso me leva a pensar nos dias hoje, podemos ver que o voto é só uma questão pontual, as mulheres tem o direito de votar, porém essa estrutura vinculada a esposa, dona de casa e mãe não se modificou, ela continua intacta! O que aconteceu, foi a incorporação de “atividades” ao papel da mulher! E mesmo com essas “mudanças” relacionadas as mulheres, ainda temos as mulheres anti-feministas, que na verdade nem sabem o que é de fato o feminismo, confunde-se com femismo, e isso também incute num erro nosso, que não estamos articuladas nem para informar o que vem a ser o feminismo para nossas companheiras, que por algum motivo não tiveram acesso a “educação”, nem oportunidade de participação político, já que o “mundo” está articulado contra nós, como a própria imagem mostra os meios de comunicação são armas contra tudo que põe em risco a ordem estabelecida, deturpando a verdadeira proposta. São anti-feministas porque estão vinculadas a ideologia de dominação que vem com a dominação camuflada, com propostas de paz e imposição da submissão, ditando as regras de comportamento, mantendo assim, o papel da mulher secundário!
    É nesse ponto que temos dificuldade, as mulheres feministas tem se centrado em questões pontuais que podem muito bem ser cedidas e ficar como conquistas e em nada modificar as estruturas. Essas questões pontuais, como o voto, a educação e até o aborto, são questões importantes, mas o fato é que não podemos perder a lucidez, achando que isso irá modificar as estruturas opressoras, porque está mais que provado que não irá!

    Abraços!

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