O anti-feminismo, que se organizou como contra-movimento na precisa altura em que as feministas começaram a apresentar reivindicações, muito particularmente, a reivindicação do direito de voto (a partir da segunda metade do século XIX), foi liderado por mulheres que pertenciam a uma elite: eram ricas, pertencentes a uma classe social privilegiada e próximas dos órgãos de poder por laços de família que, enquanto filhas, irmãs ou esposas, as ligavam a homens com enorme prestígio e influência.
As líderes anti-feministas, embora exaltassem o ideal da domesticidade, eram tudo menos domésticas, domésticas eram as inúmeras criadas e governantas que as acolitavam e lhes permitiam dedicar-se à vida activa na esfera pública. Graças ao facto de se movimentarem próximo ao poder, eram convidadas a desempenhar tarefas prestigiantes enquanto voluntárias de organizações que tinham a seu cargo a protecção e o respectivo enquadramento dos sectores mais desfavorecidos da população: os pobres, os doentes ou a população prisional, o que lhes fornecia a importante moldura moralista de pessoas preocupadas com os outros, todos muito boa gente, desde que não começassem a questionar um apoio social que aparecia como uma esmola e não como um direito. De resto as lideres anti-feministas, tal como os homens da classe dominante a que também pertenciam, não escondiam o seu desprezo pela «populaça» e o temor de que a expansão do voto a pessoas ignorantes comprometesse políticas que consideravam essenciais para o «engrandecimento» da pátria, leia-se, para a continuação do seu bem-estar e dos seus privilégios.
As anti-feministas percebiam, embora provavelmente de modo difuso, que a vitória do sufrágio poderia comprometer a sua posição, retirando-lhes protagonismo e o papel que desempenhavam na sociedade, com o decorrente prestígio de que gozavam, pois seria de supor que, a partir daí, muitas das tarefas a que voluntariamente se dedicavam, enquanto senhoras ricas com tempo disponível, passariam a ser desempenhadas noutro contexto por mulheres com formação universitária que as capacitasse para o exercício desses cargos. É esta a interpretação proposta por Susan E. Marshall, que me parece bastante plausível:
«A vitória do sufrágio legitimaria o emprego de mulheres e posterior expansão do Estado de bem-estar-social, suplantando a autoridade do voluntarismo social com um quadro de mulheres profissionais com credenciais universitárias, relevante experiência de trabalho e agendas políticas liberais. Em resumo, mais do que contrastar sufragistas esclarecidas com as suas equivocadas oponentes, eu defendo que as mulheres activistas de ambos os lados da questão do sufrágio perseguiam o seu próprio interesse político.»
Isto leva-me a concluir que não é correcto interpretar as anti-feministas, sobretudo as líderes, como mera correia de transmissão dos interesses masculinos, elas também estavam a defender os seus próprios interesses, por mais contestáveis que estes nos possam parecer.
Susan E. Marshall: Splintered Sisterhood, The University of Wisconsin Press.
As líderes anti-feministas, embora exaltassem o ideal da domesticidade, eram tudo menos domésticas, domésticas eram as inúmeras criadas e governantas que as acolitavam e lhes permitiam dedicar-se à vida activa na esfera pública. Graças ao facto de se movimentarem próximo ao poder, eram convidadas a desempenhar tarefas prestigiantes enquanto voluntárias de organizações que tinham a seu cargo a protecção e o respectivo enquadramento dos sectores mais desfavorecidos da população: os pobres, os doentes ou a população prisional, o que lhes fornecia a importante moldura moralista de pessoas preocupadas com os outros, todos muito boa gente, desde que não começassem a questionar um apoio social que aparecia como uma esmola e não como um direito. De resto as lideres anti-feministas, tal como os homens da classe dominante a que também pertenciam, não escondiam o seu desprezo pela «populaça» e o temor de que a expansão do voto a pessoas ignorantes comprometesse políticas que consideravam essenciais para o «engrandecimento» da pátria, leia-se, para a continuação do seu bem-estar e dos seus privilégios.
As anti-feministas percebiam, embora provavelmente de modo difuso, que a vitória do sufrágio poderia comprometer a sua posição, retirando-lhes protagonismo e o papel que desempenhavam na sociedade, com o decorrente prestígio de que gozavam, pois seria de supor que, a partir daí, muitas das tarefas a que voluntariamente se dedicavam, enquanto senhoras ricas com tempo disponível, passariam a ser desempenhadas noutro contexto por mulheres com formação universitária que as capacitasse para o exercício desses cargos. É esta a interpretação proposta por Susan E. Marshall, que me parece bastante plausível:
«A vitória do sufrágio legitimaria o emprego de mulheres e posterior expansão do Estado de bem-estar-social, suplantando a autoridade do voluntarismo social com um quadro de mulheres profissionais com credenciais universitárias, relevante experiência de trabalho e agendas políticas liberais. Em resumo, mais do que contrastar sufragistas esclarecidas com as suas equivocadas oponentes, eu defendo que as mulheres activistas de ambos os lados da questão do sufrágio perseguiam o seu próprio interesse político.»
Isto leva-me a concluir que não é correcto interpretar as anti-feministas, sobretudo as líderes, como mera correia de transmissão dos interesses masculinos, elas também estavam a defender os seus próprios interesses, por mais contestáveis que estes nos possam parecer.
Susan E. Marshall: Splintered Sisterhood, The University of Wisconsin Press.
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