Em 1915, tudo parecia indicar que, numa base Estado-por-Estado, o Texas seria mais um a aprovar o sufrágio feminino; as sufragistas locais estavam a realizar um bom trabalho: promoviam campanhas de rua, escreviam no mais influente jornal e, quando a Câmara Legislativa iniciou a sessão, enviaram cartas e petições aos legisladores. Havia boas expectativas de que as suas reivindicações fossem finalmente atendidas. Mas na arena política surgiu uma oponente do sufrágio que testemunhou perante a Câmara Legislativa de forma veemente e poderosa e conseguiu reverter o resultado inicialmente previsto: não se atingiu os dois terços de votos necessários para que a lei passasse. Essa mulher foi Pauline Kleiber Wells.
Pauline Kleiber Wells casou em 1880 com James B. Wells, um dos poderosos patrões políticos da região do Rio Grande Valley do Texas, uma zona de rancheiros e homens de negócios abastados que contavam com mão-de-obra constituída basicamente por hispânicos cujo voto era facilmente manipulável via paternalismo, ameaça e suborno. Claro que a estes patrões políticos que faziam e desfaziam governos não interessava que o número de votantes aumentasse, tanto mais que no caso das mulheres passaria a implicar uma constituência, aparentemente - pelo menos assim o deviam pensar - mais instável e difícil de controlar.
Pauline Wells, como outras anti-sufragistas, considerava que as mulheres eram inferiores aos homens, deixando-se governar não pela razão mas pelas emoções; portanto, não era conveniente entregar-lhe a alta responsabilidade de votar. Iriam colocar ao abrigo dos seus caprichos coisas tão importantes como decisões militares. Como não podia deixar de ser, acusava as líderes sufragistas de odiarem e invejarem os homens e de desprezarem as mulheres que se dedicavam à vida familiar e ao lar, para as quais o voto, ao invés de ser um direito, seria um fardo.
Era mais uma a assustar as mulheres com o declínio da família que o voto provocaria, semeando discórdia entre marido e esposa e levando as mulheres a terem menos filhos, o que poria em risco a raça do verdadeiro povo americano - branco, de origem anglo-saxónica e predominantemente evangélico – cuja supremacia ficaria ameaçada, um argumento que encontrava receptividade num número significativo de pessoas; não estava fora de questão, dizia-se, que o país viesse a ser dominado pelos negros.
Esta retórica alarmista escondia interesses políticos e económicos inconfessáveis. Os grandes proprietários, os comerciantes de bebidas alcoólicas, os barões da indústria e da finança e os patrões das máquinas políticas, todos viam com preocupação a concessão de voto às mulheres e aqui, independentemente de outras motivações , objectivamente, Pauline limitava-se a defender os interesses da classe a que pertencia. Quando testemunhou perante a Câmara, a sua argumentação resumiu-se à alegação de que o sufrágio feminino levaria ao «feminismo, antagonismo entre os sexos, socialismo, anarquismo e Mormonismo». Foi tão bem sucedida que, em seguida, resolveu fundar a “ Associação do Texas Oposta ao Sufrágio da Mulher (“Texas Association Opposed to Woman Suffrage”) que resistiu até 1920, altura em que a 19ª Emenda Constitucional foi aprovada.
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