terça-feira, 10 de março de 2009

Paradoxos eclesiásticos - parte II

Um outro blogue mimoseou o padrasto abusador e o arcebispo vigilante com alguns insultos soezes. Não pretendo enveredar por esse tipo de violência verbal, mas não posso deixar de exercer o meu direito à indignação. É que, de facto, «Sua Eminência» revela total ausência de compaixão e completo desrespeito por um ser humano concreto - que pela sua fragilidade devíamos querer proteger e acarinhar - em nome de um princípio abstracto, discutível e discutido - o direito do embrião à vida. Muito diferente desta é a postura assumida por Miriam Leitão, colunista de O Globo, que se pergunta pelo direito da criança à vida e acima de tudo a uma vida feliz.
Tudo se passa como se, em nome de um princípio abstracto, a vítima devesse ainda expiar uma culpa, pagando com a sua própria vida ou tendo de arcar com outras consequências terríveis de um acto de que não teve a mínima responsabilidade.

Colocando-me agora numa perspectiva filosófica, cada vez desconfio mais de morais que estabelecem princípios rígidos de conduta, pretensamente universais e intocáveis, e me aproximo de Hume ou de Condorcet que, no plano ético, valorizam os sentimentos de benevolência e compaixão e insistem na necessidade da pessoa cultivar traços de carácter que a levem a respeitar e a sentir-se solidária com os outros.
Condorcet escreveu palavras que me parecem muito comoventes e sensatas:
«Quando terminei os estudos, comecei a reflectir sobre as noções morais de justiça e virtude. Percebi que o interesse que temos em ser justos e virtuosos deriva da dor que um ser sensível deve experimentar ao tomar consciência do sofrimento dos outros. Desde então,tentei preservar este sentimento com toda a sua natural energia.»

Parece-me que o Senhor Arcebispo não deve perder muito tempo a cultivar este sentimento... mas como ainda acredito no ser humano, talvez não seja tarde para começar.

1 comentário:

  1. Ser sensível à dor dos outros é fundamental para sermos justos e virtuosos; seguir princípios abstractos de justiça pode conduzir a situações calamitosas.

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