sábado, 10 de outubro de 2009

A mal-nutrição erótica das mulheres e o banquete romano dos homens

Vem este título a propósito de um blog que visitei há pouco tempo, no qual se discutia acaloradamente o que as mulheres haveriam de fazer para dar mais prazer aos seus parceiros sexuais; mulheres e homens opinavam e eu resolvi comentar a estranheza - para mim é claro, de estarem tão preocupad@s com o prazer dos homens e não darem a mínima para o prazer das mulheres que, como todos sabemos, ainda hoje constituiu um grave problema de saúde sexual, embora ninguém pareça querer dar-lhe muito atenção, as mulheres por vergonha, os homens por que o problema não é deles…. Claro que de imediato o «galo» daquela capoeira me mimoseou com os insultos soezes que costumam substituir os argumentos mais sólidos. Não lhe ocorreu nem ocorreu aquela corte que de facto, os homens já são privilegiados, e alguém pretender que precisa de se preocupar ainda com as suas carências sexuais é não só caricato como escandaloso. De facto, comparada com a mal-nutrição erótica das mulheres, a frugalidade dos homens assemelha-se a um banquete romano.
Entretanto li um texto que me sugeriu este título e resolvi traduzi-lo; nele a autora, Linda LeMonchec, cita o relato de uma prostituta muito compreensiva para com as necessidades dos homens e igualmente complacente para com as esposas desses homens. Vale a pena conferir:
“Quando a trabalhadora de sexo Valerie Scott diz que a maioria dos seus clientes casados continuam a amar as suas esposas mas que, por vezes, os homens precisam mesmo de uma quebra da rotina, falha em situar a prostituição no contexto da ideologia sexista na qual as mulheres não têm uma saída equivalente para os seus devaneios adulterinos nem um meio de preservarem o estatuto de boa rapariga, se a tiverem. Por isso, mesmo que Scott tenha razão quando diz que «o desejo sexual não substitui o amor» de modo que as esposas queridas não precisam de se sentir ameaçadas pelas prostitutas, não assume a sua responsabilidade pelo facto do seu trabalho como prostituta reforçar o duplo padrão sexual que priva a sexualidade feminina de um erotismo definido nos seus próprios termos.
Como Anne McClintock aponta:
Pode acontecer os homens não terem sexo suficiente; mas também o não têm as mulheres. Os homens têm um acesso privilegiado ao empório da pornografia e da prostituição – para não mencionar também a perenidade do duplo padrão de conduta. O desejo das mulheres, por contraste, tem sido menosprezado e confinado pela triste história de museu dos espartilhos, cintos de castidade, culto da virgindade e mutilação genital. Comparada com a mal-nutrição erótica das mulheres, a frugalidade dos homens parece um banquete romano.

Dado este duplo padrão, o poder que a prostituta afirma ter sobre o seu cliente é temporário e socialmente invisível em relação ao dele; por isso Scott pode não estar a perceber que o poder dela pode facilmente ser subvertido para dar força á objectificação sexual pelo seu cliente da sua puta e da sua esposa (e também da sua secretária e da sua amante…).”

Linda Le Monchec: Lecherous men, loose women

6 comentários:

  1. como homem e pagão eu prefiro dar prazer à mulher. o homem tem mais prazer quando a mulher está satisfeita.

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  2. Esse texto priva da mesma lógica dos que querem pronografia feita por mulheres e para mulheres ou poderia se dizer, não sexista.


    Pornos quer dizer prostituta, logo pornografia é a propaganda da prostituição, a tradução e explicitação da prostituição em imagens. Sendo assim, não há como se fazer pornografia não sexista, se parte-se do pressuposto da objetificação das mulheres enquanto mercadoria e objeto sexual dos homens.

    Também não concordo com mulheres fazendo, produzindo ou dirigindo outras mulheres em filmes pornográficos, uma vez que vão fazer o mesmo papel que as cafetinas fazem com as prostitutas e os capatazes faziam com os escravos (pois na maioria eram negros que "subiam' de condição dentro das fazendas e se empregavam a explorar pessoas de sua propria raça): explorar outras mulheres para o prazer dos homens, enquanto esses continuarão a fazer suas pornografias mainstream de sempre com muita humilhação, submissão e objetificação das mulheres.

    Faz-se porno de mulheres para mulheres, para atender um "nicho" do mercado, e que não vai ficar nada a dever ao que já existe de porno soft por aí e ainda vamos continuar vendo mulheres sendo exploradas dentro da pornografia, agora por outras mulheres também e com a desculpa de que estão empoderando-nos.

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  3. Quer dizer, não o texto mas a idéia defendida nele pela Scott.

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  4. Adília:

    Eu tenho no esnips, um espaço ( Biblioteca Feminista e Biblioteca Feminista II) onde divulgo textos e livros sobre feminismo e tomei a liberdade de postar textos do seu blog lá. Espero que vc não se importe.

    No texto que tirei daqui "A prostituição não é degradante somente para as prostitutas", eu explico melhor o que quis dizer com meu comentário acima.


    Tentei postar os links aqui, mas está bloqueado.

    Desculpe se fiz algo que a tenha incomodado ou aborrecido. Daqui por diante, vou restringir minha participação às leituras dos seus textos.

    obrigada.

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  5. Cara amiga
    Fico é grata por divulgar os meus textos. As nossas vozes têm sido tão inibidas e silenciadas que está na altura de derrubar mais esse muro.
    abraço, adília
    P.S. vou tentar encontrar o seu espaço.

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  6. Texto interessante mas deveria explorar mais a condição da prostituta,ou seja,a violência que estas sofrem,alé de sua relação com o tr[áfico sexual.E francamente,não há desculpas para a existência da objetificação da mulher,como tenta "explicar" um trecho.fico me perguntandio que "amor " é esse que nos devide em "mulher pra casar" e "mulher para estuprar".
    Ademais,notei que o texto for escrito por uma pessoa de Portugal;acredito que no Brasil exista algumkas modificações,tipo,homens preocupados em dar prazer para suas companheiras e tal..memso assim ainda há muito o que fazer.Mas estou surpresa de como a Europa tem andado pra trás nestes termos....

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