quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Anti-feministas – «His master voice»

As anti-feministas, como podemos deduzir do testemunho de Seriah Rein da CWA, não consideram necessária a representação das mulheres nos órgãos do poder político nos quais se tomam decisões que a tod@s dizem respeito:

«Eu penso que não é necessário ter cancro para ser capaz de articular como preveni-lo, como lidar com ele e como o tratar. Não acredito em quotas, ponto final. Conheço alguns homens que conseguem expressar as preocupações das mulheres melhor do que muitas mulheres … Não penso que deva haver uma certa percentagem de mulheres só pelo facto de serem mulheres. Penso que foi um mau serviço que fizemos aos negros através da acção afirmativa … Sinto o mesmo acerca da representação das mulheres no Congresso. »(Citado in Righting Feminism)

Seriah Rein, ao desvalorizar completamente a participação das mulheres na política através da eleição de representantes do sexo feminino, apenas está a ser coerente com as anti-feministas do início do século XX que se organizaram para fazer oposição à concessão do voto para as mulheres. Ao argumentar que alguns homens até conseguem defender melhor os interesses das mulheres do que as próprias mulheres, Rein está a personificar a velha mentalidade paternalista que encara as mulheres como seres menores cuja melhor opção é colocarem-se sob a protecção dos homens e desistirem de qualquer intervenção directa no mundo, contentando-se com a influência que possam ter no seio da família, vivendo por interpostas pessoas, sejam o marido ou os filhos, apagando-se e desistindo de protagonismo na esfera pública. Claro que ela própria fugiu a esse padrão, mas pode sempre invocar que apenas está a cumprir uma missão e que as afirmações que profere, porque são feitas por uma mulher, tem muito mais credibilidade do que se fossem proferidas por homens; mas este tipo de argumentação é um pau de dois bicos pois também se presta à interpretação de que afinal ela e outras como ela são simples correias de transmissão dos interesses dos homens que são apresentados como coincidentes com os interesses das mulheres, uma espécie de «his master voice».

2 comentários:

  1. Adília:

    Gosto muito de ler o que escreve.
    Excelente, o raciocínio: "...simples correias de transmissão dos interesses dos homens que são apresentados como coincidentes com os interesses das mulheres, uma espécie de «his master voice».

    Abraço.

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  2. Coruja
    Fico contente por saber que aprende alguma coisa com os meus textos, de resto eu propria quando faço pesquisa para os escrever também descubro muitas coisas que não conhecia ou que conhecia mal como acontece com o caso do movimento anti-feminista americano que não deixa de me surpreender . Penso que aqui há muita matéria para reflexão e para tirarmos conclusões acerca do que se passa nos nossos próprios paíse onde apesar de o contra ataque não ser tão chocante também existe e está alerta fazendo estragos sobretudo através dos Media de entretenimento.
    Abraço adília

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