«Maternidade intensiva» é o conceito utilizado pelas anti-feministas para designar o ideal de maternidade que defendem: um ideal em que a mãe se dedica única e exclusivamente à família e aos filhos, aos quais sacrifica generosamente os seus interesses pessoais e profissionais, cumprindo assim o que entendem ser a sua verdadeira vocação e destino.
Como hoje, um número cada vez maior de mulheres não se confina ao papel de esposa e de mãe e integra a força de trabalho com todas as dificuldades e ansiedades que isso pressupõe, as anti-feministas não perdem a oportunidade para culpar as feministas, atribuindo-lhes o terem desprestigiado a função maternal e criado condições para que mulheres, que são simultaneamente mães e trabalhadoras, não se sintam felizes. Para explicar esta tensão, que de facto pode existir, as anti-feministas nunca invocam a escassez de apoios familiares, a negligência de maridos ausentes, ou a estruturação de um mundo laboral que continua a funcionar em moldes masculinos e a ignorar as novas dinâmicas criadas pela presença das mulheres. Para elas, pelo menos idealmente, a resolução de todos os problemas resultaria do retorno da mulher ao lar.
Claro que as anti-feministas que defendem este ideal de maternidade intensiva reconhecem que se trata de um ideal e na sua própria vida ou nem sequer têm marido e filhos, como acontece por exemplo com Ann Coulter, estrela mediática do movimento, ou podem contar com empregadas diligentes e governantas de reconhecida competência que tomam conta dos rebentos e da casa enquanto elas próprias brilham na esfera pública, caso por exemplo da carismática Phyllis Schlafly que teve seis crianças, o que não perturbou as suas constantes intervenções na vida pública nem o seu activismo contra o movimento feminista. E, já que estou a referir contradições, também não me parece muito verosímil que estas senhoras insistam com as suas próprias empregadas domésticas para que fiquem em casa a cuidar de maridos e filhos ou sequer que as convidem a trazer as suas crianças para as casas onde servem, até porque normalmente não são muito entusiastas da mistura social.
Vejamos agora os pressupostos do ideal de «maternidade intensiva». Em primeiro lugar parte do princípio de que os papéis de homens e de mulheres são radicalmente diferentes, não permutáveis e têm suporte em características biológicas também distintas. Aceita ainda que a mulher se define pelo papel de esposa e de mãe e presume que ela se sente verdadeiramente feliz e realizada no exercício deste papel.
Não contentes com estes princípios, as anti-feministas ainda invocam Deus e os seus planos, para manter as coisas no seu «devido lugar»; ora o beneplácito divino dá sempre muito jeito para punir as transgressoras e para que elas internalizem sentimentos de culpa e de angústia; pelo caminho, para melhor atingirem o objectivo ainda transformam as feministas em bodes expiatórios:
«O movimento feminista destruiu aquilo que acreditamos ser a família tradicional – um homem casado com uma mulher, entregando-se aos papéis que, sentimos, Deus os incumbiu de cumprirem no lar. Acreditamos que o que Deus dispôs para homens e mulheres cria o melhor ambiente para as crianças, no qual ambos, mãe e pai, são iguais em casa, embora com diferentes papéis.» (Presidente Pate do CWA, citado in Righting Feminism, p. 99.)
Parece-me que neste ideal de maternidade há um aspecto verdadeiramente perturbador: ele implica, como disse acima, que se defina e confine a mulher ao papel de esposa e sobretudo de mãe. Mas será que, restringindo-se a este papel, a mulher consegue transcender a sua função natural e biológica e realizar-se como ser humano de pleno direito? Penso que não. Quando se reflecte sobre a função reprodutiva e sobre a função produtiva dos seres humanos, é esta última que se salienta, isto é, não é a função reprodutiva, mas sim a produtiva que dignifica o ser humano, que lhe confere valor, no sentido de que este, através do trabalho, transcende a sua condição animal e assume-se como sujeito da sua própria história. Ora negar à mulher o acesso à esfera produtiva confinando-à função reprodutiva é negar-lhe a possibilidade de transcender a sua condição natural e de se afirmar como sujeito da sua própria história.
AAAAAAAAAaah meu comentario ja tava pronto... e apagou... kkkkkkkkkk...
ResponderEliminarresumindo e concluindo... que bom q estamos sintonizadas no tema da maternidade...
as diferenças de pontos de vistas só nos enriquecem...
e qdo eu falo do sagrado de ser mãe, não quero ser anti-feminista nem muito menos quero q deixemos tudo pra voltar p casa e ser amelias de novo, nem morta...
quero é um novo modelo social q não nos imponha essa vida "produtiva" artificial com horarios de exploração e contas mensais a pagar... uma vida mais natural e comunitaria, sustentavel e ecologicamente saudavel, não essa vida urbana poluente e estressante de relações or interesse e nao por amor...
;D
Concordo com a necessidade do novo modelo social que refere, mas não podemos esperar que ele nos caia de bandeja, temos de lutar e de tomar consciência da nossa condição, das limitações naturais e das que nos são impostas socialmente se queremos transformar o mundo, um emprendimento utópico, mas sem utopia não é possível viver.
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