sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ciência e sexismo

Aceitamos que ao nível do senso comum o nosso conhecimento acerca da realidade que nos cerca é subjectivo e relativo. Estas características encontram-se expressas em provérbios populares que dizem por exemplo, «cada cabeça, sua sentença; «quem o feio ama bonito lhe parece»; quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, etc etc.

Também sabemos que o conhecimento filosófico e as conclusões que estabelece, por mais rigoroso e racional que seja o processo utilizado, embora mais fiável que o do senso comum, é conhecimento controverso e não nos sentimos na obrigação de lhe dar a nossa adesão incondicional.

Já quanto à ciência, a tendência natural é para aceitar como verdadeiras as conclusões a que os cientistas chegam, sem haver qualquer margem para discussão, esquecendo que os cientistas são pessoas como nós e sobretudo foram desde sempre exclusivamente do sexo masculino - só agora as coisas começam a mudar timidamente, e acabam por interiorizar valores e preconceitos da época, com a agravante de pretenderem estar acima deles.

Tudo isto vem a propósito para chamar a atenção para o viés sexista da ciência ocidental bem ilustrado pelos exemplos a seguir apresentados, acerca da capacidade intelectual das mulheres:

«Um dos temas favoritos (da ciência ocidental) tem sido o da capacidade intelectual das mulheres. No século XVII por exemplo dizia-se que o cérebro das mulheres era demasiado «frio» e «mole» para poder servir de suporte ao pensamento rigoroso. No século XVIII a cavidade craniana das mulheres era considerada demasiado reduzida para alojar um cérebro poderoso. No século XIX, pensava-se que o exercício cerebral desenvolvido pelas mulheres era prejudicial aos seus ovários. No século XX, sugere-se que o modo como as mulheres processam a informação espácio-visual (usando supostamente o hemisfério esquerdo em adição ao direito) torna-as pretensamente inferiores na aptidão relacionada com a visão no espaço (incluindo as aptidões matemáticas)»
Janet Kourany: Philosophy of Science

3 comentários:

  1. A ciência hoje em dia assume o papel dos dogmas religiosos inquestionáveis(apesar de em alguns países ainda ter peso).Se a ciência "provou" então é certo,tem credibilidade,é a nova versão de "dogma".Por isso vemos tanta pesquisinha de fundo de quintal contra as mulheres passarem sem ter a menor resistência por parte das mesmas....

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  2. Concordo inteiramente. Por isso é também tarefa de feministas desmitificar as conclusões a que as ciências chegam quando se trata de fornecer uma representação do feminino que continua a desfavorecer as mulheres

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  3. Sim ^_^,e temos que também criar programas para que as mulheres se interessem por ciência.A construção da feminilidade continua sendo direcionada para a personificação do sexo e para futilidade(com pesquisas á tiracolo "provando" esta nossa "tendência natural",claro...).

    Eu estou pensando em agir junto a minha universidade para que tais projetos sejam criados(no caso,pesquisas direcionadas para agricultura e meio embiente,que é minha área).Outras iniciativas semelhantes poderiam ser tomadas,por exemplo,vc [ái em Portugal poderia procurar universidades/mulheres interessadas para elaborar a proposta.

    O importante é colocarmos em prática,por mais mínima que seja uma ação nossa ^_^.

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