No século XIX, o contra-ataque anti-feminista manifestou-se em várias frentes e uma destas foi a da educação. Com base em alegadas diferenças biológicas profundas entre homens e mulheres começou por se defender a tese de que as mulheres não eram educáveis, no sentido de se lhes ministrar formação intelectual equivalente à dos homens, por que elas eram seres intelectualmente inferiores. Portanto a sua falta de capacidade aconselhava a que não perdessem tempo com tal tarefa.
Com o correr dos tempos, o argumento da suposta incapacidade intelectual das mulheres mostrou-se insustentável e então recorreu-se a outro tipo de abordagem. Já não se colocava em causa que as mulheres pudessem ser educadas, mas debatia-se se elas deveriam ser educadas e concluía-se pela negativa. Ao constatarem que as mulheres educadas tendiam a casar mais tarde e a ter um menor número de filhos, os médicos relacionavam a educação das mulheres com pretensos danos na sua capacidade reprodutiva e aduziam uma explicação «científica»: o estudo desviava energia dos ovários para o cérebro e em última instância acabaria por tornar as mulheres estéreis. O facto de os homens com formação académica também tenderem a casar mais tarde e a ter menor número de filhos não parecia perturbar o argumento; tão pouco os incomodava o facto de algumas pessoas, como por exemplo, Mary Robert Smith apresentarem uma explicação bem mais plausível: o que acontecia era que mulheres educadas decidiam ter menos filhos.
Quando os argumentos «científicos» se mostravam menos convincentes, havia sempre o argumento moral que os ministros das diversas denominações religiosas esgrimiam: o conhecimento, tal como o fruto proibido por Deus no paraíso, abria o mundo às mulheres mas fechava-lhes o céu; o conhecimento acarretava a degradação moral das mulheres; que o mesmo pudesse acontecer com os homens, era piedosamente ignorado.
De qualquer modo, o objectivo era sempre o de desencorajar as mulheres a cultivarem a sua mente, a adquirirem conhecimentos sobre o mundo e a vida e a procurarem a sua afirmação e realização pessoal, continuando a remetê-las para a esfera privada da família e para os papeis exclusivos de esposa e mãe.
Ainda hoje, apesar de todos os avanços, a velha nostalgia do regresso ao lar e a estratégia de tornar a mulher bode expiatório de todos os desajustamentos sociais continua a funcionar, muitas vezes com sucesso.
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