sexta-feira, 12 de março de 2010

Sexologia e anti-feminismo

Nos fins do século XIX e nos princípios do século XX também a recém criada sexologia deu uma ajuda de peso ao movimento anti-feminista ao fornecer-lhe argumentos, ainda por cima pretensamente científicos, para preservar o status quo e manter as mulheres confinadas à esfera privada e aos papéis tradicionais.

Patrick Geddes e J. Thomson, biólogos escoceses, em «The Evolution of Sex» (1889), norteados pela teoria evolucionista, defendiam a tese de que a assertividade masculina e a passividade feminina tinham origem biológica, havendo células específicas de género por tal responsáveis, e utilizavam metáforas que enfatizavam a agilidade do esperma em contraste com a natureza expectante e passiva do ovo.

Também, por exemplo, Otto Weininger (1880-1903), filósofo e sexólogo austríaco, no livro «Sex and Character», publicado em 1903, escreveu estas pérolas de pura misoginia: «A mulher não deseja ser tratada como um agente activo, ela quer permanecer sempre e em toda a parte – e é nisso que precisamente consiste a feminilidade – puramente passiva, e sentir-se ela própria na dependência da vontade de outrem; ela apenas e tão-somente quer ser desejada fisicamente e ser possuída como uma nova propriedade.»
O mesmo Weininger considerava que as mulheres não raciocinavam porque a energia indispensável para tal era desviada para a tarefa da procriação.

Deste modo a sexualidade feminina continuava a ser entendida pelos sexólogos - que não brincavam em serviço, única e exclusivamente em termos da satisfação que poderia propiciar ao homem e em termos de procriação.
Este contributo da sexologia, disciplina moderna e aparentemente vanguardista porque abordava temas tabu, fornecia o racional para justificar a separação da esfera privada, domínio feminino, da esfera pública na qual imperava a autoridade indiscutível dos homens.

Como Carroll Smith Rosenberg escreveu nos «Discourses of Sexuality and Subjectivity: The new Woman»: «O objectivo do discurso sexológico era o poder, a regulação e o controlo da Nova Mulher, constituindo-a como objecto sexual e, tornando-a sujeito da regulação política do Estado.»
A conclusão a reter é que a sexologia, juntamente com a ciência e as mais caras crenças do senso comum, colaborava para mostrar que os papeis feminino e masculino não eram intermutáveis, e que tudo devia permanecer como a religião e os bons costumes prescreviam.

4 comentários:

  1. Olá
    estou fazendo uma pesquisa sobre misoginia e dei com o seu blog, um verdadeiro achado, já estou te seguindo.
    falo sobre violência da mulher apareça por lá
    Beijos

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  2. A mulher pode ser como quiser, do jeito que ela quiser. Ela pode escolher ser ou uma Madre Teresa ou uma Paris Hilton, apesar dela não ter aceito participar do comercial com o propósito de defender uma vida sexualmente ativa e saudável.

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  3. Olá «Mulher»
    Já tive oportunidade de visitar o seu blog, de ler alguns dos seus textos e deixar um comentário.
    A violência doméstica é a face mais brutal da sociedade sexista em que vivemos e está na hora de contra-atacarmos. Podemos fazê-lo, como o faz, denunciando, escalpelizando a situação e encorajando as mulheres a darem o troco, qualquer que ele seja.
    Também podemos começar a usar a retórica e, quem o conseguir, o ridículo. Assim por exemplo, num dos seus texto à frase : «nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais», para além de denunciar a besta que a formulou poderia retorquir: «nem todos os homens gostam de bater em mulheres, só os poltrões».
    Convido-a a fazer sempre que possível estes exercícios de retórica, pois, como bem sabe, a leitura de um texto extenso, mesmo quando bem construido é um trabalho que grande parte das pessoas não sabe ou não está disposta a fazer e uma síntese bem conseguida é um pouco como uma imagem, vale mil palavras.
    Desculpe o «sermão» que eu muitas vezes também faço a mim própria, mas a minha intenção é apenas a de sugerir um melhor meio de fazer passar a mensagem.
    Bjs Adília

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  4. olá!
    gostei muito deste artigo! Está muito interessante. Sabia que o homem sempre se socorreu das ciências, que estavam, aliás como tudo o resto, confinadas ao seu domínio, para provar a sua superioridade. Aristóteles foi um deles. Mas não fazia ideia que a Sexologia também tinha servido esse propósito.

    Valeu à mulher o surgimento do Socialismo e os socialistas que as apoiaram.

    Gostava que visitasse o meu blog.



    diariodasfemeas.blogspot.com



    Cumprimentos,

    Boneca de Trapos

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