quinta-feira, 18 de março de 2010

Moda e anti-feminismo

«Bloomers» é a designação dada a um traje que foi popularizado por Amélia Bloom na revista The Lily, por ela editada de 1849 a 1853. Supõe-se que este traje tinha sido desenhado por uma prima de Elizabeth C. Stanton, a famosa líder sufragista da época, e consistia basicamente de um vestido curto e calças até ao tornozelo. Com este tipo de vestuário, que visava substituir as incómodas e pesadas saias compridas bem como as rendas, complicados encaixes e folhos dos vestidos tradicionais, pretendia-se dar maior liberdade de movimentos às mulheres, nomeadamente para passearem de bicicleta, desporto que se tornou popular na época.

A nova moda constituiu um autêntico desafio à moda tradicional e às convenções ligadas ao vestuário feminino e foi precursora das calças e jeans actualmente usados pelas mulheres em praticamente todas as partes do mundo. Causou imenso escândalo na época, como as palavras do editor do Arthur’s Home Gazette, de 1851 - que a considerava apenas digna de mulheres de reputação duvidosa, ilustram:
«A despeito do alarido que tem sido feito à volta da nova moda, ela não parece ter atingido de modo significativo as mulheres respeitáveis» e acrescentava: «na maioria das nossas cidades, aquelas que a usam têm sido apenas mulheres de má reputação.»

Amelia Bloom, respondeu bem a quem criticava a nova moda e a acusava de excentricidade:
«Quem pensa que parecemos «estranhas» precisa de recuar alguns anos atrás para o tempo em que as mulheres usavam dez ou quinze libras de camisas e crinolinas (petticoat and bustle) à volta do corpo, e balões à volta dos braços e então imaginar quem é que apresenta uma figura mais estranha, elas ou nós. Não nos preocupa o franzir de sobrancelhas de cavalheiros enfastiados, contamos com aqueles de melhor gosto e de costumes morais menos questionáveis para nos darem suporte. Se os homens pensam que ficarão confortáveis com saias compridas e pesadas, que as usem, não temos nada a objectar. Nós sentimo-nos mais confortáveis sem elas. Não queremos com isto dizer que apenas usaremos este vestuário e não outro, mas usa-lo-emos como vestuário do quotidiano e esperamos que fique tão na moda que o possamos usar todo o tempo e em todos os lugares, sem sermos tomadas por excêntricas. Já nos apegamos tanto a ele que sentimos desgosto em trocá-lo por um vestido comprido.»

Como podemos constatar, até as convenções do vestir feminino visavam, e visam ainda, dificultar a vida activa das mulheres, impondo-lhes estilos que não a favorecem.
Hoje, o uso de saltos excessivamente altos permanece um remanescente dessa tradição; o retorno à moda dos cabelos compridos, a que poucas mulheres conseguem resistir, é outro indicativo dessa constante preocupação em separar aparências, na esperança de, com isso, separar também esferas de influência.

1 comentário:

  1. Ótimo post, muito rico de infos.
    Muito boa também foi a comparação entre a necessidade de aprovação social do séc XX com a atual ditadura dos cabelos longos. É como se ainda não tivessemos saído daquela época.

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