quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sexismo benevolente

O sexismo perpassa toda a nossa sociedade e assume formas diversas que vão desde o sexismo benevolente até ao sexismo hostil já próximo da misoginia. Vou hoje escrever sobre o sexismo benevolente.

O sexismo benevolente apresenta três importantes características:

(1) Manifesta-se através de uma atitude paternalista protectora: a mulher é percebida como o sexo fraco que requer a atenção e o cuidado do homem.

(2) Enfatiza diferenças que, pelo menos aparentemente e na opinião do homem, favorecem a mulher: esta é percebida como mais sensível, mais generosa e altruísta, com maior sentido ético.

(3) Encara a mulher como um ser a reverenciar e a admirar: a mulher, possuidora das características atrás referidas, merece respeito e até veneração por parte do homem.


Dadas estas características, o sexismo benevolente parece favorável à mulher e de facto, muitas mulheres aceitam-no e encorajam-no, sendo por isso muito difícil lutar contra ele e erradicá-lo. Quem não aprecia atitudes cavalheirescas? Quem não gosta de ser admirada?

No longo prazo, todavia, o sexismo benevolente tem um preço e acaba por revelar efeitos perniciosos. Um desses efeitos tem a ver com o estereótipo da mulher dotada de superioridade ética, sensível e altruísta, capaz de se sacrificar pela família e particularmente pelos filhos; ora este estereótipo acaba por ser punitivo para as mulheres que eventualmente podem nele não se reconhecer enquanto obriga as restantes a sacrifícios que porventura não são legitimáveis na medida em que prejudicam a realização da mulher como ser humano. Por outro lado, aceitar o sexismo benevolente implica defender um igualitarismo equívoco que não convém às mulheres pois acaba por as prejudicar: admitem que são diferentes apenas quando lhes convém, desaprovam a desigualdade quando lhes é desvantajosa, o que coloca em risco a própria igualdade.

Que tipo de mulheres apreciam o sexismo benevolente?

As mulheres favoráveis ao sexismo benevolente (1) têm objectivos de vida tradicionais: casar, ter filhos, manter uma família, isto é, continuam a entender que a sua esfera de influência está circunscrita ao privado e ao doméstico. (2) As suas perspectivas são conservadoras, e apresentam um perfil cognitivo que as leva a entender as diferenças entre homens e mulheres como naturais e biologicamente determinadas. (3) Percebem a realidade como estável e independente do indivíduo e do seu comportamento, o que explica o seu pouco interesse na mudança social.
Realmente, se uma mulher quer limitar a sua vida à esfera privada da família, em princípio tem de contar com o homem para prover às suas necessidades, tem de aceitar a figura masculina como paternalista e protectora; por outro lado, se considerar que as diferenças que a separam do homem são sobretudo biológicas tenderá a aceitá-las com alguma passividade pois sentirá que nada ou pouco pode fazer para as eliminar, daqui decorrerá a sua receptividade ao sexismo benevolente.

Mas o sexismo, benevolente ou não, é sempre sexismo e pode uma mulher consciente e lúcida conviver pacificamente com ele?

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