Uma organização feminista escocesa recusou uma doação resultante dos lucros da venda de um calendário que apresenta mulheres nuas com o argumento de que desse modo estaria a apoiar o comércio sexual.
Depois de ver as páginas desse calendário, você vai concordar comigo. Vai perceber que representar e expor a nudez feminina não implica necessariamente a objectificação; porque esta não decorre só do «objecto» em si, este precisa apresentar determinados requisitos para que o observador o perceba como objecto. Quero com isto dizer uma coisa que a mim me parece óbvia e que só um fundamentalismo estreito, neste caso feminista, não vê: pelo facto de se representar uma pessoa nua isso não a transforma num objecto sexual.
Aqui as mulheres representadas, não sendo predominantemente jovens, aparecem com ar jovial, senhoras de si mesmas, dando aquela sensação de naturalidade e perfeita indiferença em relação a qualquer olhar, masculino ou não. Não adoptam aquela pose estudada de disponibilidade, receptividade, e mesmo passividade e convite submisso, que encontramos nas imagens que correspondem a situações de objectificação. São mulheres de carne e osso, gordas, magras, com rugas, cabelos brancos - normais, isto é, são pessoas que acontece encontrarem-se nuas.
São mulheres que trabalham e que resolveram divertir-se um pouco - estão a posar nuas, mas não para homem ver. Tudo indicia paródia da própria objectificação, essa sim presente nos calendários que é corrente encontrar nas oficinas de mecânica e afins.
Por tudo o que disse aqui, reeitero que é de evitar que as feministas dêem tiros nos próprios pés e munição a todas/os que as acusam de excessivas e até de ridículas.
Perfeito o comentário. Extremismos só prejudicam uma causa por si só difícil e lentamente asperante.
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