sábado, 22 de agosto de 2009

(4) Sexo e amor em David Hume

David Hume, filósofo escocês do século XVIII (1711-1776), aborda o tema do sexo e do amor com alguma ligeireza, mas também com a bonomia de quem encara com naturalidade os factos da vida.

Em nenhum momento, Hume reduz o sexo à função biológica reprodutiva, aliás nem sequer a refere explicitamente; liga sim o sexo ao desejo e ao prazer com a correspondente gratificação que provoca nas pessoas e nesse aspecto reconhece abertamente que as mulheres, tanto ou mais do que os homens, experimentam a força do desejo sexual. A tão apregoada modéstia e castidade que outros, a maior parte, defendiam ser inata nas mulheres é por ele desmascarada e atribuída à pressão social e aos mecanismos que levam à interiorização das normas de conduta; foi assim que no Tratado da Natureza Humana considerou a modéstia e a castidade virtudes artificiais que a sociedade incute nas mulheres para assegurar aos homens confiança de que a progenitura é realmente sua. Por outro lado, as virtudes monásticas, como o celibato, a abstinência e a mortificação da carne, tão prezadas nos meios mais religiosos, são por ele abertamente rejeitadas e consideradas imprestáveis por não terem qualquer sentido nem contribuirem em nada para a felicidade dos seres humanos.

O amor deve decorrer da união de dois seres que se completam e que se encontram numa relação de igualdade. Claro que Hume sabe que isso nem sempre ocorre nas situações práticas da vida, mas não deixa de considerar que essa seria a situação ideal, tal como nos faz ver no ensaio sobre O Amor e o Casamento no qual admite ainda que a submissão não é virtude feminina - é uma imposição, e que tanto homens como mulheres têm vontade de poder e de domínio.

Hume é uma lufada de ar fresco num monumental edifício cheirando a bolor e a bafio: restitui ao sexo a sua dimensão prazerosa; reconhece a força da sexualidade feminina. Vê no amor a união física e espiritual de dois seres que numa relação simétrica se completam. Mas Hume foi uma voz clamando no deserto, praticamente ignorada pelo Canon filosófico.

3 comentários:

  1. Sem dúvida; o próprio Hume não o teria escrito melhor.

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  2. Ainda hoje, Hume é uma lufada de ar fresco numa sociedade bolorenta e bafienta, mascarada por uma imagem de modernidade. Cabe-nos, através dos nossos jovens, "arejar" esta sociedade...

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  3. Olá Cristina
    Obrigada pela visita.
    Mas tenho de lhe dizer que também nos cabe a nós, mais novas ou mais velhas, arejar esta sociedade, de resto, como pode ver eu estou a fazer a minha parte e cada uma tem de ver como vai fazer a sua.
    abraço, adília

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