A representação da realidade, qualquer representação, pretende dizer a verdade sobre a realidade, dizer como ela é; ora representar a mulher, constante e uniformemente, como objecto sexual equivale a dizer que ela é objecto sexual, que essa é a sua identidade. Ser objecto sexual é ser representada como um corpo, ou partes do corpo, relacionadas com a função sexual, e ser com ele identificada.
Para além do empobrecimento que implica ser reduzida ao corpo, dado o pouco valor que a cultura religiosa e a cultura popular lhe reconhecem, é ainda uma forma de inferiorizar as mulheres, é como se alguém dissesse: os homens têm mentes; as mulheres são corpos.
A objectificação sexual é também uma forma de fragmentação do eu feminino porque, ao reduzir a mulher ao corpo, lhe nega a capacidade para transcender a sua função sexual. Ser feminina é ser um corpo cuja função determinante é a sexual.
Com o declínio da influência da Família e da Igreja, que durante séculos nos disseram como deveríamos ser obedientes, dóceis e preocupadas em agradar aos outros, hoje é a indústria da moda quem dita as regras da feminilidade; estas, embora formuladas de modo ligeiramente diferente, continuam a ser as mesmas. Ser feminina é preocupar-se com a aparência, mais, é ser escrava da aparência. Deste objectivo decorre a glorificação do corpo, que encontramos nas revistas de moda e na publicidade; mas por detrás da representação de rostos e corpos absolutamente perfeitos, encontra-se um outro objectivo escondido, o de criar nas mulheres uma auto-imagem negativa pois que, ao compararem os seus rostos e corpos com o modelo que lhes propõem, não podem deixar de sentir que há sempre algo errado: ou o nariz é demasiado cheio, ou os lábios muito finos, as ancas largas ou estreitas, o busto pequeno ou descaído, algo se encontra sempre fora do lugar. A mensagem que o mundo da moda envia é a de que o corpo está sempre a precisar de intervenção, seja para o modificar, seja para o conservar, pois o envelhecimento é visto como uma tragédia e começa cedo, se nos descuidarmos. «Todas as projecções do complexo moda-beleza têm isto em comum: são imagens do que eu não sou ... eu não sou aceitável como sou».(1)
Assim, com a objectificação sexual e com esta definição de feminilidade, por um lado, reduz-se a mulher ao corpo e, por outro, exige-se que se distancie dele para melhor perceber o que precisa de fazer para o adaptar ao padrão de beleza proposto. A indústria da moda tem tudo a ganhar ao criar necessidades inesgotáveis de consumo, o sistema patriarcal também agradece ao contar com mulheres cujo objectivo de vida é agradarem aos outros e que estarão bem adormecidas para pensarem em outros vôos.
(1)Sandra Lee Bartky: Femininity and Domination.
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