Tenciono a partir de hoje começar a abordar o tema da sexualidade que não só é um importante aspecto da vida humana como também comportou através dos tempos uma carga sexista que a desfigurou completamente e que se tem revelado muito perniciosa para a vida das mulheres e consequentemente também para a dos homens.
Vou abordar este tema recorrendo, entre outras, a uma obra de Don E. Marietta, Philosophy of Sexuality, de que irei traduzindo excertos, acompanhados dos comentários que o assunto me vai merecendo.
Os filósofos não dedicaram ao sexo e ao amor grandes reflexões e de uma maneira geral não se afastaram muito das ideias correntes nas respectivas épocas, dando frequentemente voz a preconceitos em vez de os escrutinarem, mas, de qualquer maneira, interessa conhecer o que pensaram e escreveram para melhor percebermos como chegamos onde chegamos. Um dos filósofos que maior influência exerceu na nossa cultura e civilização foi Platão e parece pois justo começar este ciclo temático com ele.
«Platão deu um contributo significativo para a psicologia do amor ao perceber que todo o amor é erótico, que resulta de uma carência e procura satisfazer essa falta; já não é tão obviamente correcto o que ele entendia que o amor buscava: imortalidade e crescimento intelectual. Aquilo que surpreende em Platão é que ele não valorizava o amor em si mesmo; o amor era valorizado como um meio ao serviço de outra coisa.
O sexo era visto como um assunto do corpo, o que limitava a sua importância. Platão relegava o corpo para um nível baixo de significância: era um dos objectos do mundo terreno que estava sujeito a mudança e eventual destruição, o que lhe conferia menor importância do que a das formas inteligíveis que nunca mudam e são as únicas coisas acerca das quais se poderia alcançar verdadeiro conhecimento. Platão não percebeu que o sexo é em grande parte mental, daí que para ele o sexo partilhava do estado inferior do corpo; não era um assunto apropriado para a contemplação filosófica. Platão declarava abertamente que o sexo era apenas para procriar e que os casais sem crianças após dez anos de casamento deviam ser separados. Qualquer prazer obtido através do sexo era prejudicial ao desenvolvimento da mente. Platão considerava que o propósito da vida era cuidar da alma, o que se conseguia através do crescimento intelectual que consistia num movimento contínuo em que o pensamento se desprendia das coisas sensíveis em direcção às coisas inteligíveis e das coisas particulares em direcção às verdades universais. As relações de amor e de amizade deveriam conduzir ao desenvolvimento intelectual, não ao gozo físico." (1)
O dualismo platónico entre o mundo sensível, mutável e perecível, e o mundo inteligível, imutável e eterno, levou Platão a separar o amor do sexo, a valorizar o primeiro e a depreciar o segundo. Com esta concepção dualista do real, Platão não percebeu, nem podia admitir, que o sexo tem uma forte componente mental, depende de ideias, imagens e sentimentos e não é simples mecanismo fisiológico.
Com a depreciação do sexo é também o prazer físico que é considerado negativamente na medida em que distrai a alma da sua tarefa fundamental: desprender-se do corpo e alcançar as verdades eternas e universais. Ao sexo apenas é atribuída a função biológica de garantir a sobrevivência da espécie.
(1) Don Marietta Jr. : Philosophy of Sexuality.
Adilia, vê-me este video,
ResponderEliminarGonças
http://www.youtube.com/watch?v=518XP8prwZo&eurl=http%3A%2F%2Fworldofhurtonline%2Ecom%2F&feature=player_embedded#t=513
Que conscidência! Vi o filme do post anterior, ontem! Amei!
ResponderEliminarBeijos
Muito interessante essa viagem no tempo...
ResponderEliminarparabéns pelo trabalho...
Nana
Ola Nana
ResponderEliminarainda bem que está agostar da viagem; prometo continuar e conto com a sua companhia.
bjs adília
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