O conceito de «violência simbólica» foi cunhado por Pierre Bourdieu, sociólogo francês, e permite compreender melhor as motivações profundas que se encontram na origem da aceitação de atitudes e comportamentos de submissão.
Nas relações sociais em que o vínculo é de domínio/submissão, os dominados, inconsciente e involuntariamente, assimilam os valores e a visão do mundo dos dominantes e desse modo tornam-se cúmplices da ordem estabelecida sem perceberem que são as primeiras e principais vítimas dessa mesma ordem. Não são violentados nem por palavras nem por actos, aparentemente não há coacção nem constrangimento, mas a violência continua lá sob forma subtil e escondida, sob forma de violência simbólica: o modo de ver, a maneira de valorar, as concepções de fundo são as dos dominantes, mas os dominados ignoram totalmente esse processo de aquisição e partem ingenuamente do princípio que essas ideias e esses valores são os seus.
A relação de domínio não é percebida como uma relação de força em que o mais forte impõe a regra e a norma ao mais fraco, e, não se compreendendo que deve ter começado algures no espaço e no tempo, é aceite como um dado, uma inevitabilidade e desse modo é naturalizada. Acontece ainda que as instituições religiosas, políticas, sociais e culturais convergem no sentido de reforçarem esta característica.
Poderia parecer que a violência simbólica se exerce apenas sobre os dominados, mas não é assim. Para que o domínio se perpetue e não seja detectado e denunciado, é preciso que não só as identidades dos dominados, mas também as dos dominantes sejam construídas em conformidade com estes dois modelos de comportamento, não se desculpando a mais leve transgressão, o mais ligeiro desvio à norma. É por isso que «um homem não chora»; que um menino que gosta de brincadeiras menos agressivas é um «mariquinhas», que certas profissões são impróprias para homens, etc. etc. - é preciso garantir a reprodução das estruturas de domínio. Cada homem está também sob a pressão constante de afirmar a sua virilidade e a sociedade é implacável para aqueles que são “frouxos” - é preciso garantir a manutenção dessas estruturas. Esta pressão começa cedo, na escola, os meninos perseguem sempre aquele que parece não se conformar à norma e, pela vida fora, qualquer homem sente que tem de estar à altura da ideia que tem do que é ser homem.
Nesta camisa de forças que é a violência simbólica - exercida através de um conjunto de mecanismos subtis de conservação e reprodução das estruturas de domínio, mulheres e homens têm poucas opções; estará a sua liberdade ferida de morte?
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