quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Defender os trabalhadores crucificando as mulheres?!

Mais uma vez se prova como sacrificar os interesses das mulheres aos interesses da classe trabalhadora, como propõe o feminismo de inspiração marxista, pode redundar no atropelo dos mais elementares direitos das mulheres, enquanto direitos humanos.
Vem isto a propósito do que se passou recentemente na Nicarágua em que o governo de Daniel Ortega, ex-combatente pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores, para se manter no poder, pactuou com a igreja católica e com as forças de direita, dando ocasião a que se banisse no país o acesso legal a todo e qualquer tipo de aborto, incluindo o aborto terapêutico ou por motivo de violação.

Temos assim, meninas, ainda crianças, vítimas de abusos de vária ordem, a criarem outras crianças, num círculo infernal de sofrimento e pobreza; temos assim mulheres, correndo o risco de perderem a própria vida, obrigadas a levarem a termo uma gravidez de alto risco; temos assim crianças a nascerem com malformações congénitas, num país em que os recursos e as possibilidades de sobrevivência digna são mais do que problemáticas. (1)

Estamos habituados ao cinismo político, mas que podemos esperar quando nos dizem que se serve a causa das mulheres servindo-se a causa da classe trabalhadora e quando, de todos os quadrantes e de todos os meios, desde os religiosos aos de entretenimento e espectáculo, nos vendem o mito do amor materno incondicional, e nos forjam a imagem da mulher cujo mérito maior será o de se esquecer de si própria, colocando-se ao serviço da espécie e … obviamente dos machos complacentes que lhe hão-de prodigalizar adulações tão balofas quanto hipócritas.

Todas estas malfeitorias, este controlo abjecto sobre a sexualidade das mulheres, se cometem em nome da vida, dos valores cristãos e, porventura agora também, em nome dos valores revolucionários. Que mais queremos? Parece que toda a gente fica feliz! As mulheres não devem ser gente, afinal já no Concílio de Niceia se discutiu se elas teriam alma e pelos vistos continua a considerar-se que não têm, basta que sejam máquinas a serviço da propagação da espécie.

(1) veja neste outro blog a abordagem deste tema com dados estatísticos que interessa conhecer.

2 comentários:

  1. Interessante. Gostaria de saber sua opinião a respeito da tecnologia proporcionar dispositivos (químicos ou eletrônicos) que permitiriam o equilíbrio físico entre homens e mulheres e seu impacto na sociedade ocidental.

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  2. Bem, a força física é séria candidata a factor determinante da relação domínio/submissão, e nos tempos da tecnologia da pedra lascada, e mesmo durante muito mais, deve ter exercido essa função; mas os homens não são tolos e em breve descobriram que o melhor era transformarem a força em direito, isto é, legitimar o que tinham obtido pela força; daí que todas as estruturas sociais se conjugaram no sentido de tornar natural, legítima e desejável a subordinação das mulheres. Por isso, nos tempos que correm, em minha opinião, a superioridade física deixou de ser um factor relevante, até pelo desenvolvimento tecnológico, e uma equiparação das mulheres aos homens nesse domínio, mesmo que fosse possível, não iria resolver a situação sexista em que ainda vivemos, há mecanismos extremamente subtis que exercem melhor a função.

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