Como já aqui referi, o sexismo enquanto atitude que discrimina as mulheres permeia toda a sociedade e constitui uma espécie de normativo, isto é, o normal é haver discriminação não é haver igualdade no modo como os dois sexos são tratados, um é tratado como se fosse superior e essencial, o outro é tratado como se fosse inferior e de alguma maneira secundarizado. Ora como o sexismo é a norma, é algo costumeiro e habitual, torna-se extremamente difícil lutar contra ele, seja porque as atitudes não são reconhecidas como sexistas; seja porque são desvalorizadas e consideradas inofensivas. Praticamente podemos dizer que só o sexismo hostil, que se manifesta abertamente e que abertamente atribuiu um estatuto de inferioridade às mulheres é rejeitado e considerado politicamente incorrecto, já o sexismo benevolente e paternalista, que considera a mulher como o sexo fraco que necessita protecção masculina, é endossado mesmo por um número significativo de mulheres e o sexismo subtil nem sequer é reconhecido como sexismo pela maioria das pessoas e na maioria das situações.
O sexismo subtil é de tal modo subtil que passa desapercebido a menos que os comportamentos que o caracterizam sejam definidos como sexistas. Por exemplo, sempre ouvimos dizer: Adão e Eva; Romeu e Julieta; homens e mulheres; a viúva do sr. António; a cunhada do Júlio. E podíamos multiplicar os exemplos que a norma continuaria a sobressair: os homens são sempre nomeados em primeiro lugar; as mulheres em segundo e ainda por referência ao homem, ora esta situação não acontece por acaso, embora pareça acontecer por acaso, de tal maneira é habitual, e não acontece por acaso porque reflecte uma hierarquização social e uma relação de dependência das mulheres em relação aos homens. As pessoas que usam este tipo de linguagem não reconhecem sequer o seu carácter sexista de tal maneira ele está encoberto e de tal maneira é normativo. Dirão uma de duas coisas: ou que estamos a procurar pelo em casca de ovo ou que o melhor é esquecer porque não é significativo.
Mas factos são sempre factos por mais que as pessoas os queiram ignorar: quando a linguagem se refere às mulheres atribuindo-lhes um estatuto hierárquico secundário e de dependência em relação ao homem é óbvio que ela é sexista como sexista é (ainda) a sociedade em que a usamos.
A linguagem, ao descrever as coisas de uma determinada maneira, contribui para que essas coisas se mantenham e perpetuem dessa maneira, por isso é que também a linguagem sexista deve ser denunciada e combatida. Os exemplos que citamos aqui são até dos menos gravosos para a causa das mulheres; há muitos outros, que posteriormente irei apontar, cujos danos são bem mais temíveis.
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