Dada a delicadeza do tema que hoje vou tratar, decidi traduzir um texto de quem se dedicou ao seu estudo e tem portanto uma voz autorizada; espero assim dar um contributo positivo, evitando o tom chocarreiro com que um assunto tão importante é com freqência abordado. Não quer dizer que não se possa brincar, mas a brincadeira também é uma coisa séria:
“Espera-se que as mulheres experimentem paixão durante a relação sexual, quesito básico do comportamento sexual. Contudo, a grande maioria das mulheres (cerca de 70%) não atingem o orgasmo como resultado da relação sexual (Gupta & Lynn, 1972; Hite, 2003). A natureza colocou a fonte primária do prazer do homem no pénis (ponto de contacto durante a relação sexual) ao mesmo tempo que na mulher ela se localiza a certa distância da vagina (no clitóris, situado acima da vagina). Este arranjo, designado por «vagina - clitóris fiasco», implica que o orgasmo conseguido apenas por penetração vaginal não seja o normal para a mulher. Como resultado, há grandes diferenças de género nos motivos para cada um se entregar ao acto sexual, com o homem a enfatizar o orgasmo e a mulher a acentuar a intimidade sexual. No entanto, a descrição cultural da relação sexual (por exemplo, nos filmes e na pornografia) mostra enganadoramente a mulher a atingir o clímax no decorrer do acto sexual, tal como o homem, o que pode levar a maioria das mulheres a acreditarem que há algo errado com elas, se não conseguirem atingir o orgasmo apenas com a relação sexual.
A ideia de que nas mulheres «qualquer coisa está em falta» (isto é, são inadequadas) é uma ameaça que integra muitas crenças culturais acerca da experiência de ser mulher. Freud, numa proclamação que ficou famosa, chamou a isso «inveja do pénis», mas não há evidência empírica que o suporte.
Parece mais provável que as mulheres se sintam sexualmente inadequadas porque esperam que os seus corpos se realizem em paralelo com o do homem durante o acto. Quando isso não acontece, as mulheres podem sentir-se forçadas a simular o orgasmo para agradar aos seus parceiros, pretendendo que a sua resposta biológica é equivalente à deles (Hite, 2003). Não é de surpreender que isto possa levar a ressentimentos em relação ao homem, não apenas pela pressão implícita que sentem para simular o orgasmo (para que os homens possam sentir que «se portaram à altura»), mas também pela diferença de género no prazer sexual (Kamen, 2002; Lavie-Ajayi, 2005).
Freud ligou a inveja do pénis ao facto de que os órgãos sexuais masculinos são visíveis, enquanto os das mulheres estão em grande parte escondidos. A ideia de que as mulheres são «homens defeituosos» porque a sua genitália está escondida remonta a Aristóteles e desde então tem influenciado a teoria biomédica ocidental. Contudo ... parece que os homens (não as mulheres) sofrem de inveja do pénis (isto é, desejo de um pénis maior). Além de que, em termos de puro estado de facto, as mulheres podem ter vantagem. Nas mulheres, a geografia das terminações nervosas dedicadas ao prazer e de tecido que é estimulável durante a excitação abrange uma área que é «pelo menos tão grande, se não maior do que as terminações nervosas e tecidos devotados ao prazer nos homens (Sherfey, 1973). Assim, como a ponta de um icebergue, o próprio clitóris é apenas a porção visível de um vasto conjunto anatómico de tecidos capazes de responderem sexualmente.
Por outras palavras, as mulheres não têm poucos recursos no que diz respeito ao prazer sexual. Contudo é mais provável que elas requeiram actos sexuais que não envolvam a relação sexual propriamente dita (por exemplo, estimulação oral ou manual) para atingirem o orgasmo. Por causa da primazia que culturalmente é atribuída à relação sexual enquanto acto e das falsas concepções em relação aos corpos das mulheres é mais provável que as mulheres não atinjam tanta satisfação sexual quanto os homens."
Laurie A. Rudman and Peter Glick: The Social Psychology of Gender: How Power and Intimacy Shape Gender Relations
Olá Adília,
ResponderEliminarObrigada pela visita.
Notei que seus textos são mais eruditos em vista que os meus se situam numa linguagem mais popular, para que seja de fácil entendimento a todos.
Notei também pela escrita que és portuguesa,correto?Ou passei longe?
Agradeço a visita e fique á vontade para retornar sempre que quiser!
Bom fim de semana
Afrodite
Muito interessante o texto. Eu nunca havia lido antes sbre esse enfoque da sexualidade feminina associada a essas peculiaridades sutis...
ResponderEliminarAfrodite
ResponderEliminarPenso que os dois registos destas questões, o mais popular e o mais erudito, como você diz, fazem ambos sentido e são ambos necessários. Eu preocupo-me talvez mais com a fundamentação e com a explicação racional. Acertou, de facto sou portuguesa mas lido melhor com o pessoal dos blogs brasileiros, e de lingua espanhola, por aqui está tudo muito em águas paradas.
Caro anónimo
De facto há muita gente, nomeadamente mulheres, que percebem muito pouco de sexualidade em geral e de sexualidade feminina em particular, o que me parece grave dado o lugar que a sexualidade ocupa nas nossas vidas. Obrigada pela sua visita e pelo seu comentário.
Adília, já ouvi falar muito sobre isso e me entristece mesmo, imagino como angustiando deve ser pra essas mulheres que dão prazer e não os recebe de volta, os homens muitas das vezes só pensam em se satisfazer e pronto, mas fiquei chocada com a estátisca de 70 %, será esse a grande questão de tantas mulheres instisfeita com a vida em geral, sem perceber que seu único problema está nele e não nelas?
ResponderEliminarAdoro suas visitas
Olá, Adília:
ResponderEliminarObrigado pela visita. Espero que vc volte sempre. Vou adicioná-la no "blogs que acompanho", pois gostei muito do seu blog.
Também gostei muito do texto de ontem (12/09). Às vezes tenho a sensação de que há um abismo imenso que nos separa das mulheres no quesito sensibilidade. Há uma certa distância, perspectivas diferentes. Tudo isso é muito difícil. Então, textos como esse são muito valiosos para nós, homens. Parabéns!!
To linkando seu blog na minha pagina, bjs
ResponderEliminarEsse é um assunto q eu tbm não entendo... pra mim, como nunca tive dificuldade de ter orgasmos a partir de uma certa idade, mais especificamente depois q me separei... kkkkkkkkkkkkkkkk... embora antes tbm os tivesse mas meu ex-marido era meio boring... kkkkkkkkkk... acho q foi fundamental, no meu caso, variar de parceiros, homens diferentes tem habilidades diferentes... isso depois tbm é um problema pq vc quer reunir as habilidades todas num homem só, o q claro é impossivel... e avassalador!!!
ResponderEliminarAgora falando sério, as diferenças da educação de meninos e meninas, nomeadamente em relação a iniciação sexual está na origem de grande parte desse desencontro... os meninos aprendem "rápido" demais tudo errado... as meninas, salvo excessões só aprendem na prática... com os meninos q aprenderam tudo rapido demais... logo..
Eu penso q a dificuldade é mais psicológica do q fisica, claro excluindo os homens incompetentes no quesito...mas isso depende muito da mulher se conhecer e saber se dar prazer com a masturbação...
E claro, fingir orgasmos é altamente prejudicial e contra-producente... se o cara é uma autêntica ****** em matéria de sexo, e a mulher finge q ele é felomenal... ele se acha tbm... repete o estilo q acha q está agradando... logo as meninas q fingem tem de fazer seu mea culpa nesse quesito tbm...
eu, na minha malandragem ja fingi algumas vezes, fingia q não tava sentindo nada... kkkkkkkkkkkkkkk... o q tbm é dificil... a não ser qdo os homens mais novos ainda não sabem "qdo e como" a mulher goza... kkkkkkkkkkkkk... mas os homens mais velhos, ou mais experientes sabem bem a diferença...
uma curiosidade: a minha namorada uma vez estava simulando um orgasmo comigo... fiquei p da vida, pq ela estava agindo comigo como se eu fosse um homem... então, eu dei-lhe uma overdose de orgasmos, estimulando no ponto G... ela não sabia bem se gozava, se gritava, de desmaiava... kkkkkkkkkkk me pedindo pra parar... pareceu até q foi a primeira vez q ela atingia o orgasmo sendo tocada no ponto certo...
acho muito facil saber qdo a mulher tem orgasmo, os homens é q são mesmo autistas e não conseguem perceber... ou não querem saber, q é o mais provavel... afinal eles"aprendem" a gozar com uma prostituta e por isso não aprendem a fazer sexo COM alguem e sim EM alguem, por mais crua q seja essa afirmação... é assim...
mas a razão disso é exatamente manter o amor e o sexo bem separados... assim, sem um verdadeiro encontro, prazeroso e igualmente libertador, o sistema se perpetua...se alimenta desse desencontro... ou por outra...
bons orgasmos, resultantes de bons encontros, q dinamitam modelos ou no mínimo independem destes, são antídoto pro medo e pra violência... eis a questão!!!
taí um ótimo assunto para o meu blog: o orgasmo feminino... };)
ResponderEliminarBem Olhos e Pensamento esperemos que essa estatística signifique o que diz: «a grande maioria das mulheres (cerca de 70%) não atingem o orgasmo como resultado da relação sexual» o que pode significar que recorrem, pelo menos algumas, a outro tipo de estimulação coadjuvante. Sabe é que fala-se em educação sexual, mas nem homens nem mulheres tem acesso, e @s profs. provavelmente não teriam preparação, muito complicado.
ResponderEliminarMarcos
Também gostei das suas selecções para o seu blog, revelam bom gosto e sensibilidade.
Nana
gostei particularmente do autismo dos homens e da brilhante tirada: eles"aprendem" a gozar com uma prostituta e por isso não aprendem a fazer sexo COM alguem e sim EM alguem,
é sa ou tem outra autoria?
Beto, vá em frente
Obrigado a tod@s pelos comentários, abraço adília
a frase é minha... a idéia é original... mas acho q muita gente ja tinha pensado nisso, só não formulou a frase assim... kkkkkkkkkkk...
ResponderEliminarOlá, estou grata pela visita que fez ao meu blog e achei o seu texto praticamento verso em prosa. A sua linguagem é refinada e embasada em escritos cientificos. Que bom saber que compartilhamos de algumas ideias sobre o assunto que nos pertuba e nos une ao mesmo tempo.
ResponderEliminarVisite o meu blog sempre que lhe for conveniente
serei uma visitante constante ao seu.
abraço