sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Com os sexólogos todos os cuidados são poucos …



Na década de sessenta do século XX, sexólogos de renome, como Harry Benjamin, Alex Comfort e William H. Master, tentaram passar a ideia de que não há nada de errado com a prostituição - desde que as prostitutas escolham livremente dedicar-se a essa actividade – defendendo que só um preconceito social, alimentado em boa parte por alguns sectores feministas, não permitia aceitar essa realidade.

Com estas sonantes declarações procurava criar-se um clima liberal favorável que tornasse socialmente aceitável a prostituição. Estes sexólogos, numa época em que em vários países começava a surgir legislação anti-prostituição, alegavam que tal legislação teria funestas consequências sociais pois seria responsável por um aumento significativo da homossexualidade, da violência contra crianças, violações, e outras ofensas sexuais, já que a prostituição funcionaria como uma espécie de válvula de escape contra comportamentos desviantes. Entre estas afirmações e as que foram produzidas por Tomás de Aquino no século XIII não há, como podemos conferir, diferenças substantivas: «A prostituição no mundo é como a imundície no mar ou o esgoto num palácio. Retira o esgoto e encherás o palácio com poluição; o mesmo acontecerá com a imundície do mar. Afasta as prostitutas do mundo e irás enchê-lo de sodomia…» Umas e outras reproduzem discursos falaciosos pois pretendem que não se aceite uma tese - neste caso a da eliminação da prostituição, com base nas consequências que dela resultariam - é a conhecida falácia da bola de neve.

Em relação a punições e à criminalização da prostituição era muito interessante o tipo de argumentação que esses sexólogos utilizavam: quanto às prostitutas, embora não concordassem com a penalização, ainda podiam entendê-la, mas em relação aos homens que usavam prostitutas penalizá-los seria, diziam, uma irresponsabilidade, pois que se tratava de pessoas respeitáveis, pais de família, homens de negócios, pacatos cidadãos, isto é, como diz Scheila Jeffreys (1), «os homens não deviam ser tratados da mesma maneira que as mulheres porque os homens eram importantes».
Por outro lado, esses mesmos sexólogos apresentavam as práticas sexuais dos homens com prostitutas como se estas correspondessem ao que o sexo deveria ser, e indirectamente forneciam o modelo para a construção da sexualidade feminina que tomaria por base a erotização da submissão da mulher ao homem, controlador e dominador. Neste aspecto, imitavam os seus confrades do século XIX, da era Vitoriana, que pretendiam fornecer uma visão «científica» da sexualidade masculina, considerando que esta supunha a natural submissão da mulher e o desejo que esta tinha de ser dominada pelo homem.
Por tudo isto se compreende a posição arrojada do psiquiatra Thomas Szasz que considera tal sexologia como um ramo da indústria do sexo que fornece o «imprimatur» da ciência às práticas desta indústria, ou ainda de Steven Marcus que em «The Other Victorians» considera que esta pretensa ciência do sexo incorpora os valores e os métodos da pornografia.
(1) Scheila jeffrey: The Idea of Prostitution

2 comentários:

  1. }:) não deve ser surpresa alguma para você, mas tanto a pornografia quanto a prostutição fazem parte da "lógica" do sistema patriarcal falocrata (cristão/monoteísta) em que a mulher tem que ser degradada, submissa, uma escrava sempre disposta a servir ao senhorio machista.

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  2. Beto,isso existe no oriente também,não é só coisa de cristão ou judeu...já li atrocidades sobre as culturas orientais.Até emso nas religiões que tem deusas,elas são sempre esposas e comcubinas do deus maior,que é sempre um homem.Portanto,o patriarcado é universal.

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