Erich Fromm (1900-1980) foi um psicanalista alemão de inspiração marxista que em « The Art of Loving» nos deixou as suas reflexões sobre sexo e amor.
Tal como Sartre, também Fromm considera que para compreender o sexo e o amor é preciso partir de uma teoria da natureza humana e entender que o ser humano, arrancado à natureza a que os outros animais estão confinados e a que se adaptam através de práticas instintivas, se encontra numa situação de ruptura com ela que provoca estranhamento e terrível ansiedade que tem origem na indefinição em que se encontra, só quebrada pela inevitabilidade da morte.
Tal como Sartre, também Fromm considera que para compreender o sexo e o amor é preciso partir de uma teoria da natureza humana e entender que o ser humano, arrancado à natureza a que os outros animais estão confinados e a que se adaptam através de práticas instintivas, se encontra numa situação de ruptura com ela que provoca estranhamento e terrível ansiedade que tem origem na indefinição em que se encontra, só quebrada pela inevitabilidade da morte.
No ser humano, a razão, que toma o lugar dos instintos, leva a que o homem se veja como uma consciência separada do mundo e dos outros que apreende dolorosamente os seus limites - entre o nascimento que não desejou e a morte que teme, e que se sente isolado e impotente face a forças que não domina. É nesse estranhamento do homem frente à natureza e aos outros seres humanos que radica a terrível e insuportável angústia que experimenta.
Dada esta condição, o primeiro e fundamental problema que o ser humano vai ter de resolver, obviamente depois de garantidos os recursos necessários à subsistência material, é o de superar essa separação e esse insuportável sentimento de angústia. A solução dependerá do contexto e das idiossincrasias pessoais e pode encontrar-se na procura ascética, nas religiões, na conquista de poder sobre os outros, na procura da sabedoria, na criação artística, e também no amor humano, sendo esta última solução uma das que aparentemente é mais acessível ao comum dos mortais.
Considerando este último aspecto - o amor entre os seres humanos como solução para ultrapassar o estado de separação e de isolamento a que se encontram condenados, Fromm interpreta as experiências orgiásticas, que fazem parte de muitos rituais tribais antigos, como a procura da solução para esse problema e em conformidade vê no sexo e na procura do orgasmo o mesmo objectivo de anular o mundo e com ele anular também o sentimento de estranhamento e de solidão que faz parte constitutiva do ser humano:
“Um meio de alcançar este objectivo encontra-se em todo o tipo de estados orgiásticos. Estes podem assumir a forma de transe auto-induzido, por vezes com a ajuda de drogas. Muitos rituais das tribos primitivas oferecem uma gravura vívida deste tipo de solução. Num estado transitório de exaltação o mundo exterior desaparece e com ele o sentimento de separação. Na medida em que estes rituais são praticados em comum, uma experiência de fusão com o grupo é acrescida o que torna esta solução tanto mais efectiva. Proximamente relacionada com e por vezes misturada com esta solução orgíaca, está a experiência sexual. O orgasmo sexual pode produzir um estado similar ao que é produzido por um transe, ou pelos efeitos de certas drogas. Ritos de orgias sexuais comuns faziam parte de muitos rituais primitivos. Parece que após a experiência orgíaca, o homem pode continuar durante algum tempo sem sofrer demasiado com a separação. Lentamente a tensão da ansiedade cresce, e então é de novo reduzida pela realização repetida do ritual.” (1)
Se o sexo, com a experiência do orgasmo, resolve, ainda que por breves momentos, o isolamento e estranhamento do ser humano, se a experiência orgíaca torna a solução mais efectiva, podemos começar a perceber que a sexualidade humana tem uma função que a afasta nitidamente do reducionismo biológico e fisiológico e começamos também a perceber porque é que os seres humanos dão tanta importância ao sexo e, mesmo contra os costumes instituídos, alguns, nostálgicos de velhos rituais tribais, procuram práticas de sexo em grupo, apesar da intolerância da sociedade face a essas práticas. Mas Fromm considera que “o acto sexual sem amor nunca preenche o vazio entre dois seres humanos, a não ser momentaneamente”. E o amor é uma arte que exige enorme investimento: disciplina, concentração, fé racional e paciência.
(1) Erich Fromm: The Art of Loving
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