quarta-feira, 30 de setembro de 2009

«Sabedoria popular» e desprezo pelas mulheres

Os provérbios são, como sabemos, sínteses pitorescas de observação, resumos de «sabedoria popular». Ora há, como também sabemos, muitos provérbios sexistas que, embora acusem um certo desgaste, continuam a ser citados a propósito e a despropósito em situações pretensamente hilariantes.
Os provérbios sexistas constituem reflexos vivos do desprezo social pelas mulheres; as visadas não só tem de os ouvir sem recalcitrarem, como é suposto que lhes achem graça, sob pena de serem acusadas de menos dotadas em termos de sentido de humor. Mas é difícil achar graça, a menos que se seja debiloide, a essas manifestações de alarvidade consensual:

«Bate regularmente na tua mulher, mesmo que não saibas a razão, não te preocupes porque ela sabe»
As mulheres são como as batatas, comem-se descascadas ou a murro»
Livre-nos Deus da burra que faz him e da mulher que sabe latim»
Como estes ditados são formuladas em termos de humor e provocam sorrisos coniventes da assitência, qualquer resposta resultará necessariamente patética e assim se continuam a cultivar estas preciosas pérolas de misoginia popular que aceitam e estimulam: (1) a violência contra a mulher, (2) a redução da mulher ao estatuto de objecto sexual, (3) a satirização da mulher que aspira à instrução e ao conhecimento.

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