domingo, 20 de setembro de 2009

(2) O que é que há de errado com a pornografia?

Suponho que a pornografia não precisa de ser necessariamente sexista, mas a que anda por aí para consumo da comunidade sexualmente activa, predominantemente a masculina, é sexista e é sobre esta que vou hoje escrever.

Os filmes porno apresentam mulheres jovens com atributos físicos que os machos valorizam: seios volumosos, «bunda» protuberante, pernas esbeltas, rostos convencionalmente bonitos, e homens, nem sempre tão jovens nem tão dotados em termos de beleza, mas que revelam pujança física e exibem normalmente um pénis avantajado, para dizer o mínimo. Depois, através de uma narrativa imagística em que a história é praticamente inexistente, são oferecidas cenas de sexo explícito, com as mais diferentes posições e opções, que normalmente terminam em abundante ejaculação masculina que a jovem, ou jovens acham muito apetitosa e digna de autêntica veneração. A figura dominante é sempre a do macho, as protagonistas estão ali para o adorar e para se submeterem ao seu poder e aos seus desejos.

Vejamos agora porque é que a pornografia (pelo menos este tipo de pornografia) deve ser denunciada e criticada. Não falo em proibição porque julgo que no contexto em que vivemos seria provavelmente impraticável.

A pornografia erotiza a desigualdade entre os sexos - e aqui estamos a falar em inferiorização e submissão de um em relação ao outro, ao tornar essa desigualdade e correspondente inferiorização sexualmente atraentes: mulheres jovens, com atributos físicos que os padrões estéticos dominantes valorizam, mostram-se encantadas com tudo o que fazem, mesmo que o que fazem seja considerado consensualmente degradante por todos os que se propuserem analisar a situação com um mínimo de espírito crítico e mesmo que aquilo que fazem - seja de presumir - não lhes dê de facto nenhum prazer.

A pornografia transpõe para o sexo duro e cru um padrão de comportamento que a sociedade tradicionalmente atribuiu às mulheres: as mulheres ao serviço dos homens, empenhadas acima de tudo em agradar-lhes, sendo submissas e cooperantes. Mas faz mais, numa época em que este padrão de comportamento começa a mostrar sinais de erosão pois cada vez mais e mais mulheres não se comportam em conformidade com ele, a pornografia mente descaradamente em todos os sentidos, mente porque as imagens que mostra, pelo menos da parte de muitas das actrizes porno, ressumem fingimento e falsidade e mente enquanto narrativa sexual ao mostrar o sexo completamente divorciado de qualquer gesto de ternura ou sequer de atenção em relação às mulheres .

O objectivo da pornografia é vender um produto e vender associado um modelo de mulher que reflecte a misoginia de uma sociedade que começa a perceber que não vai continuar a controlar eternamente as mulheres, mas que esperneia enquanto pode.
A imagem que escolhi é a antítese da pornografia e desse modo resume bem o que ha de errado com a pornografia

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