Se recuarmos um pouco no tempo, constatamos que as anti-feministas, mesmo as dos nossos dias, seguem a doutrina de Rousseau; este já no século XVIII pretendia restringir o papel da mulher considerando que a sua função era «servir» o homem - como defende no Emílio ou da Educação, com o argumento de que as mulheres exercem uma influência positiva na educação dos homens, e indirectamente na vida da nação, por isso preconiza que: «toda a educação das mulheres deve ser relativa aos homens. Agradar-lhes, ser-lhes útil, fazer-se amar e honrar por eles, criá-los quando jovens, cuidar deles quando crescidos, aconselhá-los, consolá-los, tornar a sua vida agradável e doce; estes são os deveres das mulheres em todos os tempos e o que se lhes deve ensinar desde a infância.»
Como Rousseau, também as anti-feministas - se quiserem manter uma linha de coerência, aceitam que as mulheres não devem buscar a sua realização enquanto indivíduos através da procura de afirmação pessoal que possa ser conseguida pelo estudo ou pelo empenho em carreiras artísticas ou profissionais,na esfera pública, mas devem limitar-se à esfera privada da família e viver, digamos assim, por interpostas pessoas, sejam estas os filhos, obviamente os do sexo masculino- já que as jovens filhas devem ser educadas para desempenharem os papéis tradicionais, ou os maridos, criando-lhes as condições de estabilidade, segurança e conforto familiar para que eles possam florescer na esfera pública.
«É direito de uma mulher estar isenta de responsabilidade política de modo a que possa ficar livre para prestar o seu melhor serviço ao Estado. O Estado garante-lhe legislação protectora em ordem a que ela possa atingir a sua mais elevada eficiência naqueles departamentos do mundo do trabalho que pela sua natureza e pelo seu treino melhor se lhe adaptam.»
A KKK e a sua porta-voz feminina a WKKK deixaram uma memória muito triste e lamentável na história americana e é de notar como aquelas que se opunham aos direitos das mulheres afinal também se mostravam disponíveis para fazerem coro com aqueles que se opunham aos direitos dos negros, pretendendo manter estruturas sociais injustas, discricionárias e anquilosadas e não hesitando em recorrer ao terrorismo para alcançar pelo medo o que não conseguiam através da luta politica tradicional. O mesmo estratagema é usado ainda hoje, no fundo pela mesma gente, quando recorre ao assassínio de médicos e de pessoal de clínicas que praticam o aborto, no quadro da lei estabelecida nos Estados Unidos, para conseguirem pelo terror o que não conseguem na arena política.
No decurso da segunda guerra mundial, organizações anti-feministas defenderam o anti semitismo e o isolacionismo norte americano mostrando mais uma vez a sua propensão anti-progressista e reaccionária, ou seja, a sua verdadeira face.
A partir dos finais da década de 70 do século XX as organizações anti-feministas reciclaram-se, fizeram algumas concessões e modificaram o discurso, mas os pressupostos básicos e os objectivos não se alteraram substancialmente.