segunda-feira, 6 de abril de 2009

O mito da Queda – variações à volta do tema

A propósito de uma das últimas mensagens uma comentadora falou em interpretações superficiais e por tal motivo resolvi recorrer a fontes e a autoridades que talvez permitam decidir quem está a ser superficial.
Começo assim por apresentar excertos de algumas epístolas do apóstolo Paulo, mais conhecido por S. Paulo, que como todos sabemos exerceu um papel fundamental na religião cristã.
Coríntios 11:13-16: «Mas eu quero que compreendas que a cabeça de cada homem é Cristo, a cabeça de uma mulher é o seu marido, e a cabeça de Cristo é Deus. (…)


Ao referir a obrigação de a mulher manter a cabeça coberta na igreja, justifica o facto de tal não ser necessário ao homem. «… já que ele é a imagem e a glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem; porque o homem não foi feito da mulher, mas a mulher do homem. Nem foi o homem criado para a mulher, mas a mulher para o homem.»


Coríntios 14:33-35: «As mulheres devem manter silêncio na igreja. Porque não lhes é permitido falar, mas devem ser subordinadas, como a própria lei prescreve. Se há alguma coisa que desejam saber, deixemos que perguntem em casa a seus maridos. Porque é vergonhoso para uma mulher falar na Igreja.»


Timóteo 2: 11-15: «Porque Adão foi criado primeiro e só depois Eva; E Adão não foi enganador, mas a mulher foi enganadora e tornou-se transgressora. Todavia a mulher será salva através da maternidade, se viver em fé e amor e santidade, com modéstia.»


A quem não encontra aqui sinais de misoginia, aconselho a consulta rápida a um oftalmologista, se bem que duvide do tratamento porque «o maior cego é aquele que não quer ver».
Ainda para nos entendermos, preciso repetir que o misógino em princípio não apresenta declarada e descaradamente as suas posições e procura quase sempre suavizar o tom para fazer passar a mensagem e esta é, no mínimo, de menosprezo pelas mulheres, o que significa tê-las em menos apreço, considerar que em relação ao homem possuem menor valor. Ora, aqui, o tom nem sequer está assim tão suavizado.
Só para lembrar a abordagem do conceito, transcrevo do segundo post deste blogue: «Misoginia, como a palavra indica: misos =ódio + gyne= mulher, é o ódio às mulheres, que raramente se revela de forma explícita, mas que se manifesta insidiosamente nas atitudes ou nos comportamentos que ridicularizam as mulheres ou as menosprezam».

4 comentários:

  1. Acho que há aqui há um equivoco: o comentário que fiz referiu-se à explícita acusação que o pecado original foi causado , segundo as Escrituras, por Eva. Isso não corresponde nem de perto nem de longe ao que o texto bíblico sobre a criação nos diz.Daí eu tenha referido que esse texto denotava uma superficialidade na sua análise.
    Quanto à referência ao apóstolo Paulo,ao ler este seu último texto, eu sabia que ele teria forçosamente que ser apontado, porque é uma acusação demais referida.
    Acho que nem sequer será necessário dizer que Paulo era, como qualquer ser humano, o produto de uma determinada cultura e época.
    Aliás tenho a certeza que a Adilia nem sequer teria esta profunda preocupação com a posição subalterna das mulheres, se não vivesse nesta época. Além disso, se quizer ler o que o mesmo apóstolo diz na sua carta aos gálatas capítulo 3,versículos 26a28, verá que ele acaba por concluir que para Deus, não há nem homem nem mulher, nem judeu nem grego.."pois todos vós sois um em união com Cristo Jesus".
    Por outro lado, penso que não podemos misturar "alhos com bogalhos", ou seja, uma coisa é afirmar que a Bíblia acusa a mulher de todos os males humanos, que foi o que a Adilia sugeriu no seu texto, outra é constatar o que as Escrituras nos dizem sobre o papel da mulher no seu contexto familar e na igreja ou congregação.
    Terei gosto de posteriormente falar sobre isso, porque este comentário já vai longo.
    Só quero deixar uma pequena referência ao seu conselho de uma ída ao oftalmologista; aproveito também para lhe sugerir uma ída a um quaquer psicólogo que poderá de algum modo amenisar um qualquer recalcamento em relação ao sexo oposto. Isabel

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  2. Mesmo antes deste seu comentário,tive o cuidado de ir ler o texto do Genesis sobre a Queda e a leitura confirmou aquilo que eu já conhecia sobre o pecado original e sobre o papel subalterno e bem mais grave que aí é atribuído à mulher. De resto o que eu sempre enfatizei foi o misoginismo da religião patriarcal judaico-cristã e não especificamente da bíblia, de onde advém que porventura o equívoco foi seu. Além disso, é estranho que numa parte do seu comentário admita que Paulo é produto da sua época mas omita que quem escreveu os textos bíblicos, nomeadamente os mais antigos, também foi produto da sua época. Ainda, se a igreja é assim tão avançada quanto ao papel da mulher é de perguntar por que razão elas estão completamente afastadas do ofício divino e só hoje, graças a pressões feministas começam a esboçar alguns pequeninos avanços nesse sentido.
    Quanto ao seu conselho sobre o psicólogo só quero dizer-lhe que como mulher deveria ter resistido a utilizá-lo porque, desculpe lá, mas parece que você está a ser «a voz do dono» já que desde o tempo das sufragistas e até mesmo antes foi esse o argumento recorrente para tentar calar aquelas que se atreviam a reinvindicar direitos mínimos, como por exemplo o direito à educação e o acesso à cultura e lutavam para pôr termo à posição subalterna das mulheres. Muito honestamente pela sua maneira de argumentar o que eu acho é que no fundo você não só aceita como concorda com essa posição subalterna e por isso não só não se preocupa com ela como aconselha quem se preocupa a consultar-se com o psicólogo.
    Saudações feministas, Adília.

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  3. Só mais uma adenda à minha anterior resposta:
    Quando aconselhei o oftalmologista dei um conselho neutral do ponto de vista de género, isto é, um conselho que tanto pode ser dirigido a uma mulher como a um homem. Em contrapartida você sugeriu um conselho nitidamente sexista e misógino, que só pode atingir uma mulher. Pense no assunto!

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  4. Penso que é muito estranho que tenha a subtileza de dar-me um conselho neutral quanto ao género, visto que tanto o pesamento como os actos humanos são naturalmente sexuados.
    Tenha cuidado! com o ímpeto que mostra ter neste assunto, pode faltar apenas um pequenino passo para a ver defender uma sociedade de cariz matriarcal....

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