quinta-feira, 30 de abril de 2009

Procurem a resposta na Bíblia

Elizabeth Cady Stanton (1815-1902), feminista norte-americana, defendeu a necessidade de se pôr a nu a misoginia contida em inúmeros textos bíblicos. Todavia, esta posição era rejeitada por outras feministas da época, como Susan Anthony, com o argumento de que ela iria alienar boas vontades para a causa das mulheres.
A posição de Stanton, expressa nas seguintes palavras, parece todavia bastante razoável:
«Estes textos familiares são citados pelo clero nos púlpitos, pelos homens de estado nas câmaras legislativas, pelos advogados nos tribunais e ampliados pela imprensa em todos os países civilizados e são aceites pela própria mulher como a “palavra de Deus”. Tão pervertida está a natureza do elemento religioso que, com a fé e as obras, ela é o suporte da Igreja e do clero – os verdadeiros poderes que tornam a emancipação impossível. Quando nos princípios do século XIX, as mulheres começaram a protestar contra a degradação civil e política a que estavam sujeitas, disseram-lhes que procurassem a resposta na Bíblia. Quando protestaram contra a sua posição desigual na Igreja, disseram-lhes que procurassem a resposta na Bíblia.»

Em outro passo Stanton acrescenta:

«Quanto mais leio (os textos bíblicos), mais profundamente sinto a importância de convencer as mulheres de que a mitologia hebraica não tem especial pretensão a uma origem mais elevada do que a grega, sendo bem menos atractiva no estilo e menos refinada no sentimento. Há muito que as suas características objectáveis se teriam tornado aparentes, não tivessem elas sido glosadas com fé na sua divina inspiração.»

Como se pode avaliar pela leitura destes excertos da obra de Elizabeth Stanton (citados por Naomi Goldenberg em Changing of the Gods: Feminism and the End of Traditional Religions), ela tem a clara noção, por um lado, do carácter misógino de muitos textos bíblicos e da influência perniciosa que exerceram enquanto obstáculo à emancipação das mulheres e, por outro, do seu carácter mítico enquanto narrativas imaginadas para interpretar e explicar acontecimentos, o que lhes retira a força que uma pretensa inspiração divina lhes poderia outorgar.
Na época, a posição de Stanton parecia demasiado perigosa e arriscada, mais de um século volvido, infelizmente o tema continua a ser melindroso, o que mostra bem quão pouco se progrediu em determinados aspectos.

1 comentário:

  1. Olá Adília! Muito boa matéria. Você teria um e-mail ou facebook para contato? Obrigada

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