sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sentimentalismo romântico e gaiolas mais ou menos douradas

O sentimentalismo romântico foi um tipo de discurso que ganhou força na Europa do século XVIII, nomeadamente em França; manifestou-se na literatura através de novelas que pressupunham um conjunto de atitudes que valorizavam os sentimentos e as emoções e realçavam a importância do amor no casamento.
Enquanto discurso apresentava um estilo próprio, normalmente reconhecido por uma linguagem efusiva e emotiva, e por um conteúdo que apelava aos sentimentos e adoptava uma atitude nostálgica em relação à natureza e à própria experiência.
Em relação às Mulheres - e é esse o aspecto que aqui me interessa referir, o sentimentalismo foi o meio utilizado para as convencer de que, aceitando o seu lugar natural, viveriam no melhor mundo possível. Cumpre reconhecer que de uma maneira geral foi bem sucedido.
Numa época - séculos XVII e XVIII, em que algumas mulheres procuravam já instruir-se e adquirir cultura, aproximando-se dos seus companheiros masculinos, não pareceu suficiente ridicularizá-las, como o fez Molière nas Femmes Savantes, ou desencorajá-las sob os mais variados pretextos, como o fizeram Rousseau, Kant e outros, em diversos escritos filosóficos e afins; era preciso dar mais um passo e fornecer modelos que elas pudessem seguir e nos quais, conquanto engaioladas, pudessem sentir-se bem, garantido assim ao sector masculino a continuação do usufruto pacífico e inquestionado de privilégios milenares.
Deste modo e tendo em vista cumprir a sua «agenda», devidamente disfarçada para não espantar a caça, o sentimentalismo elogiava o amor romântico e a felicidade doméstica pintando a vida do lar com as cores mais sedutoras e sacralizando a maternidade que, até então, é preciso dizê-lo, não fora olhada com particular desvelo[1]. Para confinar a mulher a este papel tão desigual daquele que esperava o homem, era importante realçar as diferenças entre os dois sexos, naturalizá-las e, como se não fosse bastante, prescrever um tipo de educação que as aumentasse em vez de as diminuir.

A mulher ideal era gentil, pura e altruísta; o marido e os filhos constituíam o seu mundo; se não desafiasse a tradição e os bons costumes e se agisse em conformidade com esse modelo, seria respeitada e feliz. Instruir-se, participar na vida política, exercer sequer uma profissão, isso estava completamente fora de cogitação.
É claro que o sentimentalismo romântico teve um efeito contraproducente em relação ao movimento que começava a dar os primeiros passos na luta pela redução das desigualdades entre homens e mulheres. Com a conivência das próprias mulheres, algumas delas cultas e que nas suas próprias vidas privadas até se afastavam do modelo proposto, saiu, pelo menos no momento, triunfante.

[1] Ver Elizabeth Badinter

Sem comentários:

Enviar um comentário