A teoria da complementaridade entre os sexos renuncia a falar da superioridade de um sexo em relação ao outro, mas insiste nas diferenças que os distinguem e que atribui a naturezas também diferentes, insistindo em mais uma das visões dualistas em que a metafísica clássica é pródiga: o ser humano feminino teria uma natureza diferente do ser humano masculino.
De acordo com os partidários desta teoria, numa visão optimista e algo idílica, as diferenças entre os sexos permitiriam que eles se complementassem reciprocamente e que, nas suas respectivas funções, fossem felizes e realizados. É uma teoria que parece deixar toda a gente satisfeita e que vai ao encontro do senso comum; este apercebe-se de diferenças óbvias nos comportamentos dos dois sexos, mas não se questiona sobre as razões dessas diferenças; confunde costumes e hábitos de conduta com natureza e, com uma tão conveniente confusão, as mais gritantes desigualdades sociais passam a ser muito naturais. De resto, as classes dominantes sempre consideraram os seus privilégios muito naturais e, para se garantirem, com frequência chamaram Deus à colação, e às vezes até a própria ciência, para corroborar e tornar inquestionável o seu estatuto.
Mas já Stuart Mill, ainda em pleno século XIX , escreveu com acutilante lucidez:
De acordo com os partidários desta teoria, numa visão optimista e algo idílica, as diferenças entre os sexos permitiriam que eles se complementassem reciprocamente e que, nas suas respectivas funções, fossem felizes e realizados. É uma teoria que parece deixar toda a gente satisfeita e que vai ao encontro do senso comum; este apercebe-se de diferenças óbvias nos comportamentos dos dois sexos, mas não se questiona sobre as razões dessas diferenças; confunde costumes e hábitos de conduta com natureza e, com uma tão conveniente confusão, as mais gritantes desigualdades sociais passam a ser muito naturais. De resto, as classes dominantes sempre consideraram os seus privilégios muito naturais e, para se garantirem, com frequência chamaram Deus à colação, e às vezes até a própria ciência, para corroborar e tornar inquestionável o seu estatuto.
Mas já Stuart Mill, ainda em pleno século XIX , escreveu com acutilante lucidez:
«Aquilo que agora se designa por natureza da mulher é uma coisa eminentemente artificial – o resultado de repressão forçada em algumas direcções, estimulação não natural em outras. Pode afirmar-se sem hesitação que nenhuma outra classe de dependentes tem tido as suas características tão completamente distorcidas das suas proporções naturais pela sua relação com os seus senhores. (…)
As diferenças mentais que se supõe existirem entre homens e mulheres são apenas os efeitos naturais de diferenças na sua educação e circunstâncias e não indicam diferenças radicais, e muito menos, inferioridade radical de natureza.»
Postas estas considerações, na minha apreciação desta teoria considerar que as esferas feminina e masculina são separadas e que essa separação tem por fundamento a natureza é mais uma estratégia utilizada para evitar o perigo da igualdade sexual e para continuar a reservar o lar doméstico para as mulheres e o mundo para os homens, dimensões bastante diferentes, não?
Entendo a teoria da complementaridade entre os sexos como um mecanismo conceptual ao serviço da dominação masculina e alerto as mulheres para a ratoeira que com ela lhes querem continuar a armar e onde facilmente hão-de cair se estiverem, como na maioria dos casos estão, desprevenidas.
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