Continuando a seguir a exposição de Olga Castro Vasquez, podemos dizer que a linguagem sexista, que reflecte os valores dos grupos de poder constituídos por elementos masculinos da sociedade, foi durante séculos aquela a que as pessoas, homens e mulheres, tiveram acesso. Como Aristóteles disse, e todos sabemos, o hábito é uma segunda natureza e, aos falantes de uma língua, habituados a utilizá-la, esta surge como naturalmente necessária e como a única possível. Desse modo, mesmo sem se aperceberem os grupos dominados acabam por assimilar os valores que os dominantes entendem como bons e preferíveis. Este processo, que ocorre sem recurso a qualquer tipo de violência física, mas que efectivamente equivale a uma violência - porque o dominador impõe ao dominado um estatuto de inferioridade e de desigualdade, designa-se por «dominação simbólica»; foi Pierre Bourdieu quem cunhou o termo e explicitou o fenómeno:
«A dominação masculina está de tal modo ancorada nos nossos inconscientes que já nem nos apercebemos dela; corresponde de tal modo às nossas expectativas que temos dificuldade em pô-la em questão. Mas mais do nunca é indispensável dissolver as evidências e explorar as estruturas simbólicas do inconsciente androcêntrico que sobrevive nos homens e nas mulheres. Quais são os mecanismos e as instituições que cumprem a função de reproduzir «o eterno masculino»? É possível neutralizá-las para libertar as forças de mudança que elas conseguem travar?»
Podemos agora perceber porque é que muitas mulheres não se sentem incomodadas nem discriminadas pelo uso da linguagem sexista: encontram-se numa situação de alienação e de dominação simbólica; não tendo consciência de que estão a ser discriminadas, tal facto, que para elas não existe, não as perturba.
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