domingo, 28 de junho de 2009

Deus é misericordioso, mas só para os homens

Ophelia Benson escreveu no Observer um artigo a que deu o título: God is merciful, but only if you're a man (Deus é misericordioso, mas só se tu és homem) no qual analisa o potencial de misoginia que as principais religiões contém. Resolvi traduzir e publicar aqui este texto que me parece bastante rico e esclarecedor. O. B. começa por fazer uma breve referência a cada uma das três grandes religiões: Islamismo; Cristianismo e Judaísmo.

«Há muito a criticar na visão que o Islão transmite acerca das mulheres. No ano passado, o Observer publicou a história de um homem no Basra que espancou, sufocou e depois apunhalou a filha de dezassete anos por se ter apaixonado por um soldado britânico. Aparentemente a relação não foi além de algumas conversas, mas o pai soube que ela tinha sido vista em público a conversar com o soldado. Quando o Observer falou com Abdel-Qader Ali, duas semanas depois, ele disse: «A morte foi o mínimo que ela mereceu. Não estou arrependido do que fiz. Tenho o apoio de todos os meus amigos que são pais, como eu, e sabem que o que ela fez era inaceitável para qualquer muçulmano que honra a sua religião.
Isto foi claramente uma atitude extrema, mas a verdade é que o Deus em que muitas pessoas acreditam – seja Muçulmano, Cristão ou Judeu – odeia as mulheres. Veja-se, por exemplo, a Convenção Baptista do Sul que declara na sua afirmação de fé e de missão: Uma esposa deve submeter-se de bom grado à liderança do seu marido”. É bastante justo, não? Afinal ele é provavelmente mais forte do que ela.

Ou veja-se a igreja católica. O Papa pôs as coisas mais suavemente numa intervenção em 2008:
«Em face de tendências culturais e políticas que procuram eliminar, ou pelo menos encobrir e confundir as diferenças sexuais inscritas na natureza humana, considerando-as uma construção cultural, é necessário lembrar o desígnio de Deus que criou o ser humano masculino e feminino, com uma unidade e ao mesmo tempo com uma diferença original.»
A insistência na diferença é o primeiro passo necessário para insistir na desigualdade e na subordinação e é um passo que, durante décadas, os papas têm dado a intervalos regulares.
Em Novembro de 2006, a Nicarágua activou a proibição do aborto, sem qualquer excepção, mesmo que para salvar a vida da mãe. A lei foi ratificada pela Assembleia Nacional em Setembro de 2007. Tanto a activação como o voto em Setembro de 2007 foram amplamente atribuídos à influência da igreja Católica. Num relatório deste mês, um Comité das Nações Unidas contra a tortura considerou a proibição total do aborto na Nicarágua uma violação dos direitos humanos.

Há ainda o Judaísmo. Num subúrbio de Jerusalém, seminaristas percorrem as ruas com placards amarelos que avisam: «Se és mulher e não está apropriadamente vestida – não entres na nossa comunidade.»

Se é assim, porque é que com tanta frequência são as mulheres que enchem as igrejas? Será uma manifestação do Sindroma de Estocolmo? As religiões fazem um belo serviço treinando as pessoas para serem obedientes e leais às autoridades e as mulheres, em particular, são educadas para serem ao mesmo tempo devotas e submissas. As religiões são duras: é difícil abandoná-las e isso é duplamente verdade para as mulheres, dada que a subordinação e a inquebrantável fidelidade são os seus principais deveres.

O facto de as mulheres serem definidas como diferentes dos homens («complementaridade» é o eufemismo religioso) ; confinadas a vidas mais estreitas e, como consequência, monótonas, significa que elas têm mais necessidade das exaltações e paixões da religião. Para as mulheres, a religião é muitas vezes o coração de um mundo sem coração. Em troca, tudo o que tem de desistir é do direito de modelarem as suas próprias vidas; desde que se comportem como deve ser, tudo correrá sem incidentes.

A conexão íntima e inescapável que os crentes liberais contemporâneos gostam de estabelecer entre Deus e amor, teísmo e compaixão, é em grande parte uma invenção moderna. Ainda hoje está longe de ser universal e era extremamente rara no passado. S. Francisco era um excêntrico, não um modelo exemplar. A dolorosa verdade é que ainda nos nossos dias muitas pessoas que acreditam num deus acreditam num deus que é muitas vezes vingativo, punitivo e, outras, simplesmente cruel. O relatório Ryan sobre o abuso de crianças nas escolas industriais da Irlanda, apresentado há duas semanas, fornece uma montanha de angustiante evidência disso.
Uma sobrevivente de Goldenbridge, a mais conhecida escola industrial para raparigas, dirigida pelas Irmãs da Misericórdia, disse á comissão: Os gritos das crianças de Goldenbridge ficarão comigo até ao resto da minha vida. Ainda os oiço, ainda não consegui recuperar. Crianças a chorar e a gritar, não acabava, nunca, nunca parou durante anos naquele lugar.» Muitas daquelas crianças estavam lá apenas porque as suas mães eram solteiras ou divorciadas.

O Deus que temos nos Três Grandes monoteísmos é um Deus que teve origem num período em que a superioridade masculina era absolutamente dada por garantida. O tempo passou, mas o Deus superior masculino permanece e esse Deus continua a desprezar as mulheres. Esse Deus é aquele que impõe a Sua aprovação em todas essas leis tirânicas. Esse Deus é um produto da história, mas é tomado por eterno, o que é uma péssima combinação. Esse é o Deus que odeia as mulheres.

2 comentários:

  1. }:) grato pela visita. evidentemente, por eu ser pagão, devo considerar o Paganismo como uma exceção. nos templos antigos havia mais espaço para as mulheres, nós até falamos do sagrado feminino.

    ResponderEliminar
  2. Ahora sí encontré el artículo y lo leí ,aunque me pierdo muchas frases sí logro comprender la esencia del escrito tan cierto en todo lo que explica.
    Debo decirte que yo desearía una sociedad laica con Iglesia separada totalmente del Estado y que cada cual en la intimidad trate sus creencias religiosas.
    Soy agnóstica.
    Un abrazo

    ResponderEliminar