segunda-feira, 20 de abril de 2009

Partilhar o mundo para o transformar

Os valores incrustados nas leis, nos costumes, nas instituições, nas organizações, são valores que foram atribuídos pelos homens; as mulheres não tiveram uma palavra a dizer, nem sequer foram ouvidas; por isso, algumas feministas pensam que não irá adiantar muito uma partilha do poder mesmo que esta assuma a proporção de 50% por 50% porque as mulheres continuariam a movimentar-se numa esfera masculina e a assimilar valores da sociedade patriarcal, quando o que se impõe é pôr em causa esses valores e essa sociedade.
Embora concorde basicamente com esta avaliação, penso, no entanto, que é importante a partilha do poder por parte das mulheres, mesmo que esse poder seja na sua essência masculino, pois só num momento seguinte, dentro do sistema - qual cavalo de Tróia, será possível abalá-lo significativamente.

O acesso ao poder teve início a partir do momento em que as mulheres, mesmo com todas as dificuldades e limitações, começaram a aceder ao mercado de trabalho pois este garantiu-lhes alguma independência económica, condição indispensável para a libertação e o auto-controlo. Mesmo aceitando-se que esse mercado é organizado segundo regras que foram escolhidas pelos homens, seria um retrocesso desistir dele. Idêntica situação ocorre com o poder político; parlamentos, órgãos de governo, dirigidos milenarmente pelos homens, tiveram obviamente de incorporar os valores que estes pensavam ser preferíveis, mas só se nós, mulheres, lá chegarmos é que poderemos fazer alguma coisa para alterar esse e outros universos em que nos movemos.
Se as mulheres em geral, em pé de igualdade com os homens, participarem nos órgãos de deliberação e de decisão, então podemos dizer que enquanto classe oprimida terão deixado de existir; todavia é importante que tenham a noção de que a partir daí não é legítimo que participem na opressão de outros, seja em nome da religião, da raça, de interesses económicos ou outros, pois isso constituiria uma traição dos ideais pelos quais lutaram e significaria que estavam a pactuar com os valores da sociedade patriarcal.

2 comentários:

  1. Esse é precisamente o problema, à medida que as mulheres vão lentamente ascendendo a cargos de poder existe quase que uma obrigação 'tácita' de provarem que são tão ou piores que os homens.

    Vide Tachter, Golda Meir e até Hillary Clinton, se bem que, no caso desta última e paradoxalmente, ela teve de vir 'chorar' durante a campanha para a nomeação do candidato democrata porque o público, supostamente, a achava 'durona' em demasia. E assim é complicado: preso por ter cão e por não ter.

    Bom artigo

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  2. Obrigado pelo comentário, como se costuma dizer «pôs o dedo na ferida». Realmente as mulheres que na política ascendem a lugares de topo têm sido atraiçoadas pela necessidade e pressão que sentem para provar que são tão boas ou melhores do que os homens e nesse campo os exemplos mostram que atingiram esse objectivo. Mas o autêntico problema está numa transmutação de valores, é uma revolução muito mais profunda e radical. No entanto, como referi,não se chega lá sem se tentar e essa tentativa passa por novo tipo de protagonismos não só na política, mas também na economia e na cultura. Uma tarefa para um super-homem e para uma super-mulher.

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